Eu tenho uma (de várias) teroria, que se baseia em princípios sociológicos, antropológicos, psicológicos e musicais.
Minha tese de PhD na Sorbonne tratará desse assunto, portanto não me custa antecipar.
A criatividade pode ser limitada. Não estou me referindo a "cercear" a criatividade, mas àqueles que possuem pouca criatividade, mas que por uma obra do destino conseguem expo-la no momento certo. Creio que isso foi o caso do Mike Oldfield. Tubular Bells não é fantástico, mas é muito diferente do que se ouvia na época. Apenas duas músicas, uma de cada lado do LP, um único músico, jovem, tocando todos os instrumentos, realmente foi um projeto arriscado. Mas daí querer que todos os discos, todas as músicas sejam maravilhosas é demais. Quantos Van Gogh, quantos Matisse, Picasso, Da Vinci o mundo teve?
Alguém citou os Beatles? Com certeza era mais fácil com 5 elementos pensando e buscando soluções tudo. Algumas vezes até juntos. No album do "Sargento Pimenta" são claras as diferenças entre cada um dos membros, e poderia me perder me atendo aos detalhes, por isso prefiro pular essa parte.
Acima, citei pintores. Deveria citar músicos. Tirando Mozart, Chopin e aqueles que morreram jovens, quais nomes surgem? Que músicos foram imensa e intensamente criativos em idade avançada? Bach, Stravinsky, Bela Bartock, Aaron Copland, Philip Glass e outros. Mas só clássicos? Por que não Neil Young, Van Morrison, Adrian Legg, Peter Gabriel?
O que acontecia antigamente, e não tão antigamente assim, é que se morria jovem. Alguém com 50 anos já era um velho. Hoje se voce chamar alguém com 70 anos de ancião, voce provavelmente vai apanhar.
Devia-se viver a vida intensamente até os 30 porque depois disso não gavia mais muita vida pra viver. As doenças apareciam, se não fossem as guerras, a família consumia todas as energias, os netos, bisnetos e tudo continuava de uma maneira cíclica, repetitiva, redundante... chata.
Gente, o mundo mudou. A revolução industrial acabou. Estamos em plena era da informação. Mas o mais importante é que a perspectiva de vida aumentou. Ela vinha aumentando, mas a vida parecia não ter acompanhado. As pessoas se aposentavam e não sabiam o que fazer. Os homens morriam deprimidos, bêbados e com o paletó do pijama. Estavam acostumados a trabalhar. A vida deles não fazia sentido sem o trabalho. Como ficar em casa? As esposas achavam que o homem em casa só atrapalhava. Elas ficavam em casa e estavam acostumadas à solidão. Hoje elas tambem estão perdendo a capacidade de se divertir. Quais os planos pra aposentadoria? Quais os planos pra quando for a hora de aproveitar a vida? terceira Idade? Façam-me o favor, isso é coisa de fruta. Fruta é verde, madura e podre. O homem passa pela infância, a adolescência, a juventude, a maturidade e a velhice (quem leu meu livro sabe de quem é essa citação).
Tive o prazer de conhecer um Assistente Social que estava louco pra se aposentar pra poder se dedicar à pesquisa musical. Aposentou-se e dedicou-se. Ele tinha um plano. Quem tem?
As coisas mudaram. Antigamente podia-se dizer que o período criativo era aquele por volta dos 30 anos. Dizia-se isso porque era o ápice da vida do home. Depois disso era o declínio e a morte. Mas isso não vale hoje. Depois que nos livramos da obrigação do sustento, é a hora de nos dedicarmos à criatividade, seja ela qual for, seja ela voltada para que área for.
As empresas (pseudo) modernas fazem planos de demissão voluntária e aposentadoria, livrando-se do que elas tem de mais importante: experiência. Elas estão perdidas. Sangue jovem é ótimo, mas o equilíbrio entre mentes jovens e mentes experientes é o que faz as empresas irem pra frente. Steve Jobs é velho? Bill Gates é velho? Só porque o pessoal do Google é jovem, não quer dizer que o mundo seja dos jovens. O mundo é de todos nós. Devemos lutar para que a criatividade flua e não seja interrompida. Trata-se de um fluxo criativo que pode acontecer por impulso quando se é jovem ou por experiência quando se é velho. Ser velho não é um demérito. Ser retrógrado é. E conheço jovens retrógrados. Jovens que sempre foram velhos, porque não conseguem pensar à frente. Não conseguem planejar seus próximos 30 anos de vida.
Criatividade é uma questão de treino. É uma questão de fluides. Agora, com a pressão de fazer sempre mais, simplesmente porque se deve cumprir um contrato, fica difícil esperar pelo melhor. Quando Jeff Beck disse que iria se dedicar à sua coleção de carros antigos e tocar menos, acharam que era falta de criatividade. Por que? Ele tem o direito de fazer aquilo que gosta. Se ele gosta de carros antigos, podemos lamentar que não o tenhamos mais tão ativo, mas por outro lado ele é um excelente exemplo de planejamento. Planejar é preciso. Sempre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário