quarta-feira, 1 de agosto de 2007

As lojas estão fechando

29/06/2006

É época de Copa do mundo e parece que o mundo parou. Não o meu.

As lojas de disco estão fechando. A conceituada Galeria do Rock em SP tem cada vez menos lojas. Isso é um fato. A seguir algumas conjeturas a respeito.

O CD trouxe um "problema" pra alguns artistas: o tempo, a duração.

Quando estavam projetando o CD, ficaram na dúvida da capacidade dele. O maestro Karajan (ou seria Bernstein?) foi consultado (conta a lenda) sobre qual deveria ser a capacidade dessa nova midia. Ele disse que deveria poder conter a nona sinfonia de Beethoven inteira. Feito. Lá estavam os quase 70m da obra sem distrações ou intervalos. Mas e os populares? Havia o dobro do espaço do que em um LP. Se este veio pra liberar o tempo dos antigos 78RPM, o CD trouxe espaço demais. Meu segundo CD tem 49m de música, pq não havia mais nada pra colocar, mas como as gravadoras vão justificar um CD que tenha essa duração ou menos? Como empresários eles nunca entenderam o potencial da mídia. Só viram que era barata e dava pra socar um monte de coisas lá dentro.

Certa vez na revista Downbeat, criticava-se a inclusão das bonus track, porque qual seria o motivo dela não ter sido incluída originalmente? Será que o artista não achou que ela estava ruim? Mas era uma forma de se vender mais. No começo estava tudo certo, as pessoas queriam seus LPs naquele novo formato bom de se guardar, que não ocupava espaço. Compraram tudo outra vez (eu fui um desses) e mais um pouco. Quando esse mercado foi atendido, não haviam mais novidades e junto aparecia o MP3. Eu gravava várias coisas em um CD e ouvia no meu computador. Alguém pensou que os players convencionais podiam tocar MP3 e outro cara bolou um aparelho onde tocava MP3, mas sem o CD e enquanto isso era feito, o Napster estava a todo vapor. Conheci um monte de coisas que não conhecia graças a ele. Eu não precisava comprar um CD da Bjorg. Podia pegar as músicas mais interessantes (e que não chegam a dar um CD). Eu e a torcida do flamengo. Enquanto isso acontecia, as gravadoras só pensavam em termos jurídicos e legais. É crime, não pode emprestar, não pode armazenar, não pode dar e fecharam o Napster. Mas aí já tinha tudo o que está aqui agora, muitas outras opções e alternativas.

Falava-se em vender o CD pela internet, com direito a capa e encartes, mas os próprios CDs continuavam daquele jeito pobre, sem encarte sem letras, sem informações. As indústrias tem a capacidade de conseguir produzir muito e baixar o custo, mas pra isso é preciso querer e a sensação que tenho é que eles não queriam. Estavam sempre buscando os Beatles e os Rolling Stones do Século XXI. Não conseguiram. Eles sabem que o baú dos Beatles vai se fechar qualquer dia e eles não tem outra banda com a mesma abrangência. Não conseguiram porque erraram ao imaginarem que seriam eles os responsáveis pela descoberta (quem "descobriu" Elvis?). Enquanto isso o Amyr (a maioria não conhece, não é?) lançou não sei quantos discos por conta própria e como eles vários outros artistas. Por que as gravadoras não apostaram na diversidade da globalização? Porque eles viam na globolização a oportunidade de vender o produto deles, o produto que eles achavam que eu ia querer. O problema dessa globalização é que tentam submeter as diversas etnias a uma "ordem global", quando a globalização deveria levar em conta todas as diversidades regionais e investir nelas. Falando sobre música: se na Bahia o AXÉ é um sucesso, vamos investir nele lá. Não precisamos "globaliza-lo". Se o gaúcho adora gaita de ponto, vamos fazer coletâneas disso lá. Se o paulista adora forró (oops) vendamos forró lá. Aí nós (as gravadoras) aproveitamos que temos uma quantidade absurda de títulos e apresentamos eles em outras regiões onde podemos testar sua penetração. Se elas tivessem agido assim, poderiam descobrir os mercados específicos e não fariam tiragens absurdas que encalhariam. Perceberiam que Alex Saba vende bem na França e fariam quantidades suficientes pra lá e não gastariam tempo imaginando se o mercado na Alemanha tb iria querer. O Amyr vende em Londres? Vamos lança-lo lá. Não agrada na Nova Zelândia? Então pegamos uns 100 discos e levamos pra lá, só pra as pessoas conhecerem. Não, ao invés disso querem que eu engula Jorge Versílio, Orlando Moraes, Caetano, Gil, Roupa Nova, Catinguelê, etc. Alguém conhece Ricardo Calafate? Alguém conhece Rodrigo Campelo? Fernando Moura, Leroy Fistch (acho que errei a grafia), Hermeto Pascoal, Itiberê, Paulo Russo, Jota Moraes, Fredera...

Menos é mais. Eles não aprenderam a lição. As lojas de disco estão fechando porque há um impasse. Estamos inciando um perigoso ciclo vicioso
1) todo mundo está baixando músicas em MP3 da internet;
2) as lojas não tem o que vender nem pra que vender e fecham;
3) as gravadoras não tem aonde vender e não produzem;
4) os blogs não tem o que postar e acabam
5) nós ficamos sem ter o que ouvir a não ser o que está nas nossas coleções,
6) aí coloco minha coleção em um blog da internet pros amigos baixarem.

Em tempo Bernstein (agora com certeza) disse que o futuro da música seria uma pastilha. Falou isso há 20 anos atrás e achei que ele podia ter razão. Hoje acho que ele estava certíssimo. Pras gravadoras dou um conselho: olhem pra estante. Vendam livros cheios de informações sobre os artistas, sobre as músicas, com fotos lindas que possam ser destacadas pra serem emolduradas na parede dos quartos adolescentes e nesses livros coloquem um CD de brinde.

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