quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Celulares e celulares

Publicado originalmente em 06/04/2006

Terça feira passada saí pra almoçar com meu filho. Fomos ao restaurante de sempre e lá, depois de sentarmos em nossa mesa - não que tenhamos uma mesa - presenciamos uma cena estranha. Um senhor falava alto, sozinho enquanto andava na nossa direção. Sentou-se na mesa antes da nossa e reparei que ele estava usando um heaphone bluetooth preso na orelha (ele deve ser fã da Jornada nas Estrelas, porque aquilo parece mesmo futurístico). Uma moça sentou-se com ele à mesa (o restaurante é a quilo) e ele continuou falando com quem quer que estivesse do outro lado da linha. Comentei com meu amigo gerente, que disse que são vários que fazem isso, mas geralmente sozinhos. Outro dia em uma farmácia tinha um cara gritando "Márcia! MÁRCIA!!!" e todos olhavam espanrados pra ele, encostado na porta de vidro, olhando pra baixo e com a orelha que não tinha o tal headphone virada pra nós. Não dava pra saber o que era. Custei a entender que ele tentava fazer com que o "voice call" do telefone dele o "ouvisse". Estranho.

Esses caras, devem achar o máximo usar a "última palavra" em tecnologia "de orelha", mas quando eles começam a interferir no meu almoço - a ligação devia estar ruim, porque ele falava muito alto - fico chateado. Tecnologia é legal, mas um lápis também é tecnologia. Se depois inventaram uma caneta, é outra história. O problema é que algumas pessoas que querem ser modernas e "antenadas", esquecem uma coisa muito elementar: a hora do almoço. Caramba, aquele cara falou o tempo todo sobre negócios, não prestou atenção no que comeu e estava acompanhado. Na frente dele estava uma amiga, ou colega e ele não dirigiu nenhuma palavra à ela. Levantaram-se ainda falando com o interlocutor do outro lado da linha. Algum dia, quanto tiver um enfarte, vai dizer que foi a carne gordurosa ou a azeitona da empada, mas na verdade, o comportamento "workaolic" é seu maior inimigo. Saia com os amigos, relaxe, esqueça da vida, mas torne isso um hábito. Não deixe pra fazer isso nas férias. Faça isso diariamente. Quanto ao uso do seu gadget favorito, não se importe em parecer ridículo usando algo na orelha, no nariz - tanto faz o lugar - só cuidado pra não deixar passar por você uma boa conversa, uma palavra amiga ou um abraço por causa de uma novidade, geralmente não tão nova quanto voce gostaria.

O que eu quero deixar claro hoje não é a tecnologia, mas o saber conversar. O cara do restaurante não conversou com a colega que foi com ele, o cara na farmácia não falou com nenhuma das balconistas. Faltando relacionamento. É preciso se relacionar o tempo todo, com a balconista, o garçom, o técnico de eletronica, o caixa do mercado, a família, todo mundo. Esses relacionamentos resultam no mínimo em melhor atendimento. O garçon que traz seu prato, percebe que voce prestou atenção nele, no serviço dele. Prestar atenção nas pessoas que estão à nossa volta faz muito bem. Faz muito bem pra nós e pra elas e não custa nada, só um pouco de tempo. O tempo anda sendo muito mau usado, mas essa conversa fica pra outro dia.

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