Recebi um email (muito longo pra ser reproduzido aqui) onde meu colega compara Monarco da Portela com Pink Floyd e menciona que Borges ou Saramago disse que “não adianta tentar popularizar a literatura; arte sempre foi para poucos”.
Um problema com o qual tenho me deparado por onde passo é que os jovens estão sem cultura. É fácil falar na "cultura musical", mas simplesmente não há cultura, seja Pink Floyd ou Monarco, como foi citado no email. O que há é "ouvi falar". Os jovens não sabem escolher um vinho, uma música para um evento, um restaurante para um encontro (e não estou falando só de romance, mas negócios também). Os jovens e muitos adultos – porque não? - não sabem sentar-se à mesa, usar os talheres ou o guardanapo. Cultura? Temos que começar pelo básico: bons modos. Depois passamos para Cultura. Tenho dois filhos com 11 anos e meio de diferença entre eles. Pro primeiro eu dou educação e "pincelo" cultura. Pro segundo a fase "educação" está no estágio "polir verniz" e a cultura... bem, a cultura continua, continua, continua.
Isso da arte ser para poucos é por demais polêmico. É algo pra se dizer em um congresso ou seminário, quando falamos coisas "impressioníveis" (impressionam, mas são horríveis) que servem como impacto e muitas vezes são citadas isoladas e ficam completamente fora de contexto. Costumo começar falando que "temos pouco tempo" justifico durante 20m e depois inverto todo o raciocínio. Se você citar o início irá simplesmente pegar parte do sentido coisa. Sou mais pelo todo. Citar que a arte é para poucos, me faz lembrar das elites e de Mozart. Quando a Flauta Mágica foi encenada pela primeira vez não o foi para os nobres, mas para a plebe. Mozart era o Monarco da época. Salieri era um tremendo compositor e toda aquela trama do filme podem esquecer porque não é verdadeira. Os nobres, portanto os ricos, financiavam as artes mas isso nunca impediu que os pobres a apreciassem. A Igreja usava a arte para impressionar os pobres. Suas igrejas suntuosas e com afrescos, pinturas e esculturas tinha por objetivo impressionar. Era com arte que isso era feito. A música também era usada assim.
Popularizar não é sinônimo de escrachar. Estamos acostumados aqui na nossa América Latina com o analfabetismo. Pessoas bem próximas a nós têm dificuldade em ler e escrever um bilhete. Tem dificuldade com as palavras básicas. Quando trabalhei na construção civil, aprendi a "falar claro" com o Servente. Quem me ensinou foi o grande Seu João, o mestre de obras. Um dia ele chegou pra mim e disse: está muito empolado diga logo o que você quer e gritou: "pega isso e leva pra lá". Era a linguagem deles. Não mudou.
Ainda falta instrução. Se dissermos a um Servente que se ele estudar por 1 ano ele terá um emprego com salário maior, alguém duvida que ele não aceite? O problema é que na sociedade brasileira não há como estudar 1 ano sem trabalhar. Falta credibilidade e garantia a uma proposta como essa. Ninguém acredita que estudar mais signifique ganhar mais. O exemplo difundido é que com curso superior se ganha mais. É um exemplo sem pleno fundamento, que nos leva à triste realidade da super-qualificação. Hoje todo mundo quer fazer uma “pós”, um mestrado, um doutorado... pra que? Quais teses são defendidas? A do desemprego que levou à continuidade do estudo? Conheci vários que emendavam cursos em seqüência. Pessoas sem experiência fazendo MBA. É confuso. Ser um técnico qualificado deveria ser tão ou mais importante. Ter dignidade e humanidade também. Outro dia conheci um brasileiro, marceneiro que se formou (em marcenaria) na Suíça. É preciso dizer mais?
Arte é cultura e a cultura deve ser para todos. Nijinsky e Stravinsky até hoje não são compreendidos com a Sagração da Primavera. Mesmo assim é arte, é cultura e é para todos.
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