quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Ausência corpórea na rede

10/08/2006

A internet deixou de ser um fenômeno para estar incorporada na vida da maioria das pessoas. Muitos fazem dela meio de vida ou dependem dela para quase tudo. Houve um tempo em que pedir uma pizza pela WEB era uma piada e um site se propunha a “entregar” pizzas virtuais a qualquer um. Você escolhia os esdrúxulos ingredientes – de parafusos a minhocas – e eles enviavam um link para o infeliz gourmet. Isso foi pelos idos de 96. Hoje se pode até mesmo pedir uma pizza de verdade. Mas o que continua sendo irreal é a presença corpórea na rede. Aqui somos apenas um texto ou uma imagem, muitas vezes não verdadeira. As webcams aparecem como uma alternativa, mas não é a velocidade ainda lenta pra transmissão de vídeo o maior obstáculo pra sua disseminação. Usar uma câmera significa mostrar quem você realmente é. Se você é barrigudo, a proeminência estará lá. Se você se acha feio, não há como ser mais bonito. O uso mais comum é bastante particular e envolve sexo. Mesmo assim ainda o corpo continua ausente. É muitas vezes uma fantasia e nada mais, pois o contato físico inexiste.

Diante disso, o que temos? Estranhamente se pode tudo. Pode-se ser quem não se é, com muito mais facilidade. É possível alcançar lugares distantes e ser outra pessoa. Aquele que gostaríamos de ser ou apenas mais uma pessoa na multidão. Esse último e pouco comum caso, permite que um “famoso” se misture à multidão. Mas quem quer ser mais um na multidão? Muito pouca gente, por isso todos se tornam especialistas em alguma coisa, ou doutores em coisa nenhuma.

Tome o exemplo deste blog. Aqui você lê opiniões diversas sobre vários assuntos, mas como não estou presente na sua frente, não existo, sou mais do que um fantasma, sou um senhor fantasma, um ser virtual e inatingível. Alguém que pode ate não existir e não ser nada daquilo que digo ser.

Infelizmente eu existo e sou palpável - não que queira ser apalpado – mas mesmo assim se eu difamar alguém como irão me punir? As penalidades envolvem sempre privação de alguma liberdade corpórea. As penitenciárias estão cheias de pessoas privadas de suas liberdades. Mesmo aqueles que estão detidos em prisão domiciliar sofrem o mesmo tipo de privação. Mas como privar um fantasma das regalias corpóreas se ele não tem corpo?

Com o tempo, passo a ser comum incluir nas sentenças mais leves, manter o sentenciado longe de seu computador. Mas isso é viável? Isso é possível? Tudo, no nosso mundo moderno envolve um computador. Os próprios telefones estão próximos em parentesco, caixas de banco, terminais de informação, LAN houses, a lista é extensa e não há controle suficiente. Mas falamos de crimes. E quando não há um crime? Quando eu crio um email com pseudônimo e saio enviando emails comprometedores aos meus desafetos? Spam? Nada disso. Posso enviar um email direcionado que passa pelos melhores filtros. É fácil ofender alguém sem olhar nos olhos. E é impossível imaginar emails com imagens pra tudo o que fazemos. Afinal de contas existe a privacidade e ela é inviolável. Ou não?

Nenhum comentário:

Postar um comentário