segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Percebendo o Tempo

A percepção do tempo é interessante. Meu filho de 5 anos acha que o amanhã está muito longe e que 5 minutos são suficientes pra ele assistir um DVD inteiro. Mas isso foi há 3 meses atrás. Hoje ele já pede “só 24 minutos” antes de ir escovar os dentes pra dormir. É apenas um chute. Poderia ser 4 ou 44 minutos. Mas como ele se sente bem contando até 100, 29 parece um número razoável pra falar ao pai.

Pelos idos dos aos 70, eu queria que o tempo passasse rápido pra chegar o dia seguinte ou muito devagar pra que o dia da prova, na semana seguinte, não chegasse nunca. Minha avó dizia que o tempo passava muito depressa, cada dia mais rápido.

Será que alguém algum dia teve razão? Claro que tudo não passa da nossa percepção. Do nosso dia a dia e de como encaramos a vida.

O tempo caminha de forma imutável e nós podemos acelerá-lo ou ralentá-lo à nossa vontade, desde que consigamos controlar nossas ansiedades.

Quando algo muito bom está pra acontecer, costumamos contar os dias, horas, minutos pra que chegue logo e isso só faz nos afastarmos no tempo. Quando algo que não queremos se aproxima, procuramos esquecer e “deixar o tempo rolar”. Parece que demora mais, mas chega.

Porque não inverter?

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Antiguidades...

originalmente publicado em 12/12/2006

Essa é uma conversa antiga sobre atualização de hardware, synths e outros apetrechos, mas começa com as memórias dos computadores, que mudam na mesma velocidade que tudo em volta.
“Esse negócio das memórias não me parece o que parece.
Eu como fabricante, posso decidir por um produto que me atende bem, que faz o serviço e não é mais caro.
Passado um tempo aquela peça fica mais cara em algumas partes do mundo. Será que em todas?
Sei lá, acho que não dá pra comparar com os computadores diretamente.
Depois que eu soube que os Notes a bordo da Discovery eram 486 nada mais me espanta.
Tenho um amigo, da área de informática que costuma dizer que o melhor é ter o computador mais avançado com a versão mais antiga do programa que você quer executar. Nesse caso (extremo) você terá a melhor performance.
Desde que desinstalei todos os jogos das minhas máquina e comprei um PS2 pro mais velho, tudo ficou mais calmo.
Não temos porque fazer questão de ter a máquina mais poderosa, dual core, dual memory, dual cooler, triple stupid, etc.
Estive na loja de informática de um amigo e lá estava um cliente comprando seu dual core Intel. Perguntei o que o cara ia rodar nessa máquina e ele falou que era pra navegar (oops) escrever (han?) e usar planilha (será?) "porque eu sou engenheiro". Só pra sacanear perguntei se ele não ia colocar nenhum "joguinho". Sabem o que aconteceu? O cara sabia todos os jogos "quentes" do mercado, o que cada um precisava, quem precisava do que e pra que. Fiquei impressionado. Não por ele discorrer sobre os jogos, mas por ele estar montando uma máquina dessas, sem ASSUMIR que é pra jogar. Pelo menos assuma. O dinheiro não é dele? Qual é o mal em dizer que ama jogar no computador? Sei lá, não entendo.
Mas acho que essa barbárie de atualizações desenfreadas não se aplica à tecnologia dos synths. Se fosse assim, um VCF já teria sido superado. Acho que é uma questão física... ou elétrica... ou eletrônica... não importa, com certeza se trata de um outro mundo. Um mundo muito diferente do meu e do qual não gosto de me aproximar nem um pouco.
um abra

O Tempo (1)

originalmente publicada em 29/11/2006

Poetas pelo mundo afora já cansaram de dizer que “O tempo não pára no porto, não apita na praia, não espera ninguém” (Carlinhos Vergueiro), o que é a mais pura verdade. Entretanto os “jovens de outrora” lá pelos idos dos anos 60, diziam que tinham que “curtir o momento”. Existe alguma afirmação mais certa do que outra? Claro que não. Ambas são corretas. O tempo passa por nós e nós passamos pelo tempo. Não adianta citarmos a física ou a matemática. Trata-se de uma questão únicamente perceptiva. Cabe a nós perceber como as coisas se dão. Tem dias em que corremos atrás do tempo e em outros ele passa por nós. Mas a situação pode ser desagradável. Se estivermos sentados na praia, podemos quase sentir a brisa do tempo passando por nós. Da mesma maneira, quando estamos fazendo uma prova difícil, sentimos seu vento gelado em nossa testa. A diferença é como queremos que o tempo esteja. A frase é péssima, mas vou melhorá-la dizendo o seguinte: queremos sempre o tempo a nosso favor. Gostaríamos que o relógio andasse mais devagar em ambas as situações, mas ele nunca se altera. Já a nossa percepção sim. Se conseguimos saber aproveita-lo, dobra-lo a nosso favor, podemos tê-lo como nosso mais poderoso aliado. Entretanto, se não lhe damos caso, se o deixamos de lado, se não nos preocupamos com ele, será quase certo que teremos o mais cruel dos inimigos, voltando-se contra tudo e contra todos, mas principalmente contra nós. Quer driblar o tempo? Aprenda com ele. Aprenda sua constância. Como diria algum general dos exércitos de Alexandre da Macedônia: “Aprendamos com nossos inimigos”. Hoje foi curtinha, mas isso é só a introdução de um assunto que vai se estender por muitos posts.

Guerra e Paz

publicado originalmente em 13/02/2006

O caso do menino que foi arrastado por marginais no subúrbio carioca gerou uma onda de indignação. Infelizmente ele logo será esquecido. Enquanto for notícia estará nos jornais, mas só enquanto. Depois ficará relegado a algum recanto perdido da memória das multidões.
Enquanto isso não acontece, as pessoas relembram outros casos:
“O atual ministro não é o advogado de defesa dos filhos de magistrados que incendiaram o índio em Brasília há uns dez anos? Ou estou enganada? Minha memória às vezes me trai. Se for verdade, vocês acham que ele merece ser ministro da justiça? Que eu saiba, os monstros que incendiaram o índio estão livres, não é mesmo?”
Há justiça, ela pode até não acontecer nesse mundo, nesse plano físico, mas com certeza ela se fará sentir em outro nível.
“Lembram daquele monstro que entrou no shopping em SP e metralhou o pessoal que estava no cinema há uns dez anos ou um pouco menos? Há uma ou duas semanas eu soube que ele estava prestes a entrar em regime semi-aberto.”
Como está “aquele monstro”? Será que sua consciência está tranqüila? S pessoas chegam a afirmar que: “Vocês sabiam que daqui a poucos anos, muito poucos mesmo, esses monstros que trucidaram o João Hélio estarão na rua de novo? Sabiam que eles já tinham ficha criminal e condenação anterior?” Eu é que me pergunto se é perigoso fazer esse tipo de afirmação. Principalmente quando leio coisas assim:
“Quando é que vamos nos unir e começar a jogar coquetéis molotov nos Tribunais de (in) Justiça? Não adianta implorar, não adianta fazer abaixo-assinado, não adianta berrar, o jeito é usar o mesmo método dos facínoras que eles libertam: matar todos esses "magistrados" filhos da puta.”
Lembro-me logo dos tempos em que queimavam livros. Não acredito na violência como resposta à violência. Lembro sim, de Einstein, quando afirmava que os exércitos não eram necessários e que a existência deles revelava o lado belicoso, mesmo que se tratando só para defesa. Defesa?
A provocação está aí. Somos diariamente incitados a agirmos pelas próprias mãos quando não temos capacidade de discernir sobre o certo e o errado. Precisamos de paz. Almejamos a paz, por mais difícil que ela esteja. Almejamos por menos desigualdade social. Ansiamos por um mundo mais pacífico, mas será que nós o alcançaremos pregando a violência, a retaliação? Será que seria isso que o pequeno João Hélio, ainda cheio de vida ou mesmo agora em um outro plano queria ou quer para esse mundo? Como sempre são muitas perguntas e como sempre as respsotas não são nem um pouco fáceis.

Rótulo: Rock Progressivo

Recentemente (03/08/2007), aqui no Rio, um show de rock progressivo teve uma audiência pífia e muitos tentaram explicar porque tão pouca gente compareceu. Culparam a violência, a falta de comprometimento com o "movimento" e outras tantas coisas. Nada convincente. Um amigo mais ou menos em sintonia comigo, me enviou um email com a análise que ele fez do acontecido e é o que reproduzo a seguir. Mais abaixo está minha própria conclusão.
"Alex,
Resolvi "puxar" este assunto por ter uma opinião abalizada sobre o assunto.
Divulgação: independente de ter postado anúncios em Orkut, listas do Yahoo, distribuir panfletos em lojas especializadas e divulgar em sites e blogs, o fundamental é a qualidade das bandas envolvidas e o conhecimento delas pelo público alvo.
Quem conhece e gosta do único trabalho do Magnum Opus???
Pelo que pude acompanhar na lista Progbrasil pouquíssimas pessoas conheciam o CD da banda e seria muita pretensão esperar que alguém saísse de outros estados ou que morem longe para prestigiar o evento, a não ser realmente amigos ou clientes das pessoas envolvidas.
O próprio Daniel Klimec deixou uma cópia do seu novo trabalho na loja e mostrei a vários clientes que simplesmente detestaram o cd, sendo que alguns até estavam animados para ir ao show mas desistiram qdo ouviram os cds da banda.
Acho que o ideal teria sido incluir a banda num evento maior, abrindo para uma outra banda de maior envergadura e com isso divulgar o seu trabalho para um público novo....quem sabe até como banda de abertura de um RARF.
É muito otimismo achar que uma banda desconhecida e com apenas um trabalho (fraco) no mercado iria levar mais de 200 pessoas a um show-solo usando apenas os meios de divulgação citados acima.
Sobre o espaço da Vila do Rock é necessário ter os pés no chão e usá-lo apenas para eventos de médio porte e não para encontros semanais de apreciadores de progressivo....infelizmente esta turma começa tudo na maior empolgação e depois começam a broxar, sem falar que não dá para fazer este tipo de encontro todas as semanas...ninguém tem tempo e saco para falar das mesmas coisas semanalmente.
Quero deixar claro que estas opiniões não são apenas minhas e sim dos clientes que frequentam a minha loja e isso serve como termômetro destes eventos.
E por causa disso temo pelo sucesso do RARF 2007 pois o interesse diminiuiu radicalmente com a exclusão do Hawkwind do evento."
O rock progressivo FOI um movimento nos idos de 70. Ele hoje é só uma lembrança, um autêntico saudosismo daquela época. As bandas hoje podem ter influência do RP, como eu, mas fazer aquilo é outra história. Na minha opinião não deve ficar preso aos rótulos. Certa vez, Rick Wakeman (o mago dos teclados) disse que o melhor do RP na época foi libertar os músicos dos rótulos e é curioso estarmos agora presos a um rótulo que foi libertário. Isso já aconteceu antes e porque não aconteceria novamente? O RP não morreu, mas também não há motivos pra ser incensado como novidade. Há muito mais pra tocar e dizer sem ficar preso a ele.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Il Dulce da Norcia

Pra quem não sabe, "Il Duce da Norcia" é o grande marechal e incrível estrategista italiano Brancaleone. Como este nome estava reservado, assim como o meu (quem mandou eu esquecer a senha?) Tive que criar esse aqui. Acho que não há problema. Você terá os mesmos comentários ácidos e inteligentes desse que vos escreve.
Nos vemos por aqui a cada mês.
Forte Abraço
Alex

Mudanças (Pra cá)

Como você pode ver (ou ler) esse blog é um novo velho conhecido.
Encerrei as atividades no blog da UOL. A visibilidade era mínima e a manutenção bem chata. Espero que aqui eu tenha mais ânimo pra escrever, já que o outro blog também está hospedado aqui no blogger.
Como vc vai ver abaixo, há uma data na maioria das matérias. Essas datas são as das publicações originais.
Fique à vontade pra comentar.
Abraços
Alex

Irmão + irmão

12/02/2007

Ter um irmão e é algo curioso pra alguns, mas pra mim que tenho um irmão gêmeo é um pouco mais. Foi-se o tempo em que brincávamos com nossas semelhanças. Hoje somos tão diferentes, que fica óbvio quem é quem. Mas o mais estranho é que continuamos parecidos fisicamente. Uma semelhança desconcertante pra quem já teve a oportunidade de nos ver juntos, um evento tão raro quanto a passagem de cometas pelo nosso céu. O que eu acho interessante é como tanta semelhança pode gerar tantas diferenças. Perdemos cabelos juntos e os mesmos foram ficando brancos ao mesmo tempo, mas no resto nossas vidas não são nem um pouco parecidas. Já tentei tirar várias conclusões, mas nenhuma delas levou a um lugar mais interessante do que a simples constatação de que cada um faz o que quer com sua vida. Mesmo sem fazer maldades, ele parece ser o meu “lado negro da força”. Talvez precisemos mesmo de um lado assim pra que possamos perceber e aprender com mais facilidade a vida. É muito fácil critica-lo na posição em que estou. É muito fácil saber exatamente como ele deveria agir em cada situação – geralmente complicada – em que ele se mete. Muito mais fácil do que olhar pro meu próprio umbigo. E isso é algo curioso por si só. Não tenho muito tempo pra ficar analisando o meu umbigo, como gostam tantas pessoas por aí. Preciso ser rápido, porque a vida está acontecendo ao mesmo tempo para todos, mas principalmente pra nós dois. Quando isso acontece, parece que somos mais leves e mais sábios, mas não é assim. São só aparências. O fato é que aprendo muito mais com ele do que ele aprende comigo. Palmas pra mim? Negativo. É algo da minha vida. Podemos aprender muito mais com os outros e trazer essa experiência já vivida pra nossas vidas. É preciso experimentar de tudo, mas se já temos uma experiência de sucesso feita por alguém, porque não aproveita-la pra nós? É isso o que procuramos quando lemos e quando vamos assistir a uma palestra. É isso que procuro passar aos que me ouvem. Podemos aprender sempre. Só depende de nós selecionarmos a fonte e como já falei antes, seleciona-la é fundamental.

Overload information

29/11/2006

Desde que Vermon Reid, então no grupo Living Colours, gravou uma música com esse título, esse assunto é uma constante fonte de observação pra mim. Um artigo no Globo Info Etc de 23/10/2006, traz uma previsão da IBM de que a avalanche de informação vai se tornar (quase) insuportável. Vermon escreveu a música nos idos dos 80 e não era uma previsão, era uma constatação. Hoje, quase 20 anos depois, estamos soterrados por todo tipo de informação. Por email recebemos spam de amigos nos alertando sobre os mais novos absurdos do dia-a-dia. De um micro-ondas que explodiu água quente até os rins de alguém que foram tirados após promessas de uma noite de sexo quente. Além disso, as empresas nos acham em casa e lotam nossa caixa postal com informações sobre produtos que prometem o aumento das partes íntimas masculinas e orgasmos múltiplos para as mulheres. Podemos também comprar câmeras de segurança, máquinas de retrato que nos deixarão mais lindos, o mais novo liquidificador atestado por um lutador de sumo, diplomas universitários de qualquer especialidade e uma quantidade inexplicável de produtos que jamais sonhamos querer nas nossas vidas. Não bastasse isso, a internet trouxe informação sobre tudo. Existem blogs (oops) que mostram o dia-a-dia do João, por mais parecido que seja com a vida do José. Pra que? Por curiosidade, por bisbilhotice. Claro que há muito mais. Trocentas enciclopédias on-line e milhares de sites sobre os mais burlescos assuntos. Útil? Pode até ser, mas gasto bom tempo separando o joio do trigo. Ninguém me paga por esse tempo. Uso programas que detectam o que é spam e ensino a outros o que não é do meu interesse. Isso tudo tem um custo e pode ser alto. Diante de uma sociedade abismada com seus próprios avanços, não acredito que ela consiga se auto-regulamentar. É preciso que as pessoas se conscientizem do que é necessário. Passamos por uma febre de ter. Pessoas querem ter o micro mais potente, a bolsa da marca tal ou o carro do ano e se esquecem se SER, ou mais, esquecem-se de VIR A SER. A simplicidade é linda. Ser simples é dificílimo, mas fundamental. Diante de tanta informação o que devemos fazer? Selecionar as fontes basta? Não, é preciso que as fontes - dos amigos aos portais de conteúdo - também selecionem o que vão divulgar. A internet está jovem e é freqüentada por muitos jovens, que a usam de maneira descompromissada como é característico da idade, mas o que será quando eles envelhecerem e se derem conta de que nada sabem. Felizmente, a geração que hoje está com 16/18 anos, é tão heterogênea quanto a de 50. Felizmente não podemos nos fiar pelo que diz a TV (como sempre) ou a própria internet do caminho que seguiremos. Certa vez, Alfred Hitchcook disse sabiamente que “Quem viver verá!” Mas até lá teremos que continuar vivendo e buscando conhecimento pra discernir entre o certo e o errado, entre o bem e o mal, entre o que presta e o que merece o lixo. Precisamos do conhecimento pra avaliar o conhecimento e da informação pra avaliar a informação, mas acima de tudo, a humildade pra sabermos que não podemos saber de tudo.

Comentando comentários

23/10/2006

Nem sempre posso comentar os comentários, apesar de serem poucos, porque eu mesmo visito pouco este Blog (não devia ter dito isso), mas o Gualter deixou um comentário bem legal sobre o que escrevi em ARTE PARA TODOS de 27/08/2006 e achei interessante trazer isso pra “parte da frente” aqui do blog.

[Gualter] [gualter@mecanica.ufu.br]

“Bom dia, Alex. Meu nome é Gualter e gostaria de lhe dar meus parabéns pela postura. Educar filhos é algo mais do que pagar os estudos, é estar presente física e animicamente na vida deles, enquanto eles necessitarem, mesmo que depois de algum tempo eles achem que não necessitam mais. Que você sempre tenha aquela atenção amorosa do pai que está sempre um passo à frente, para ser efetivo no ato de amor seus filhos. Também concordo com sua opinião sobre cultura. Vivi muito tempo em Curitiba e lembro da popularização da cultura que foi e é possível lá. Muitos diriam que é por causa da influência dos alemães, italianos, etc que lá moram. Particularmente acho que isso independe, pois o que importa é o indivíduo tomar consciência de suas necessidades (e cultura é uma delas) e ir atrás disso. Os jovens se empobreceram culturalmente. Lêem e escrevem pouco e mal (respectivamente ou não). É como se estivéssemos doente, mas não nos déssemos conta disso. Que fazer? Educar-se. Obrigado. Gualter”

A conclusão dele é tão óbvia e tão pouco perseguida que levanta muitas dúvidas. A pessoa que está doente e não sabe tem dois problemas, que são a própria doença e a falta do conhecimento. Poderia ser também a falta do discernimento entre estar ou não doente. Estamos doentes pela falta do discernimento entre o que a cultura e a informação. Isso é assunto pra outro post. Por ora agradeço as palavras do Gualter e espero não me perder por aí.

Não era pra ser assim...

Era pra atualizar esse blog mais de uma vez por mês, mas não está dando, em todo caso, já que estou aqui, aproveito pra reproduzir um email que enviei em resposta a uma colocação interessante sobre sonhos que recebi de um rapaz. No começo pode parecer confuso sem ler o email dele, mas pelo meu dá pra saber bem o teor da conversa., uma boa conversa sobre sonhos, onde ele achou que eu não acreditava nos sonhos, mas vamos a ele:

Antes de mais nada fique calmo. As coisas que eu descrevi, pra mim são loucuras, mas aconteceram comigo e de forma bastante real. Se sua namorada acordou triste porque sonhou que você a traía eu acordei satisfeito porque sonhei ter tocado com um cara de quem eu nem gosto tanto assim. Quando perguntei qual a tua idade é pra saber se você está acostumado a esse tipo de coisa ou não, ou a quanto você está acostumado com esse tipo de coisa. Ninguém aqui está na terceira série, e se alguém falar em terceira idade vai apanhar. Não me passou pela cabeça achar que você estava contando vantagem, porque nem sei qual "vantagem" seria essa. "Dar cavalo de pau"? Não me pareceu nada disso. Agora percebo que você até se assustou com o que sonhou. Perceba a experiência da tua namorada. Esclarece bastante os meandros da nossa mente. Novamente eu afirmo: não usamos nem 10% da nossa capacidade (você citou 50%, portanto foi bastante otimista). A "placa na porta" referia-se à Lucy do Charlie Brown que fazia atendimento em uma banquinha do tipo que usam (lá) pra vender limonada. Minha infância foi lendo Charlie Brown, portanto uma lembrança boa de infância não pode ser tomada como algo ruim depois. Todos os sonhos que tive tocando teclado e saindo som (como você disse) foram quando eu NÃO tocava teclado. Quando comecei a tocar a realidade dos acordes levaram embora os sonhos das turnês. Mais comumente acordo com melodias inteiras na cabeça e se não as escrevo ou gravo elas se perdem no primeiro bom dia. Muitas músicas minhas foram compostas assim e isso tem várias explicações. Muitas através da psicanálise Freudiana, mas essas eu levo muito menos a sério do que todas as outras que me parecem muito mais plausíveis do que analíticas. O sonhar é uma liberação, um momento em que o desprendimento nos faz ser o que quisermos. Difícil é, tendo sonhado com o "concerto com orquestra" (pra citar um exemplo meu) sentar ao piano e executar o que acabei de sonhar. Se já tentei? Muitas vezes! Se consegui? Nenhuma. Não sou um pianista. Não tenho a técnica que sonho ter. Isso é um problema? De jeito nenhum. Se eu estudasse talvez chegasse lá, mas não me interesso (pelo menos por enquanto). Se era pra levar na brincadeira? Claro que era. Mas se quisesse conversar em PVT, veria que a conversa iria mudar bastante de tom e poderíamos conversar sobre algumas coisas que não vem ao caso aqui. E estou respondendo aqui, apenas porque você não entendeu meu senso de humor (recomendo leitura com atenção redobrada às respostas do Gilberto, ele consegue ser muito mais sarcástico do que eu). Quanto a "reproduzir o som", é válido entrar no mérito da percepção sonora durante os sonhos. Se você está sonhando que está conseguindo tocar, sua percepção será positiva. Conheço uma pianista clássica, doutora em música, que tem sonhos onde não consegue tocar nada. Quando coloca as mãos no piano, ele está desafinado, ou ela erra os acordes ou por mais que toque certo o que ouve são erros. De sonho a pesadelo em um passo. Porque será que ela sonha com isso? Qual o tipo de insegurança ela tem? A sua idade esclareceria quanto de confiança você tem em você. O quanto você tem de energia extra pra enfrentar os outros desafios (e não apenas os musicais) que estão te esperando pela vida. Os sonhos são reflexos do nosso cotidiano e de como o enfrentamos. Pelo que você descreveu o mais interessante, não é o fato do som sair perfeito, mas da sua percepção de um som perfeito. Pra você, ainda há muita força. Não conseguiram te abater e os "lenhadores de gente" vão se empenhar em fazê-lo. Seus futuros colegas de trabalho (seja ele qual for) mesmo sem querer, podem contribuir pra minar sua resistência ou pra te pegar em um dia não tão bom. "Pode" acontecer não é que "vá" acontecer. São conjecturas partindo do que você descreveu e com base em outros tantos teóricos e filósofos que estão por aí. Quanto a ser louco, eu sou.

Arte é para todos

27/08/2006

Recebi um email (muito longo pra ser reproduzido aqui) onde meu colega compara Monarco da Portela com Pink Floyd e menciona que Borges ou Saramago disse que “não adianta tentar popularizar a literatura; arte sempre foi para poucos”.

Um problema com o qual tenho me deparado por onde passo é que os jovens estão sem cultura. É fácil falar na "cultura musical", mas simplesmente não há cultura, seja Pink Floyd ou Monarco, como foi citado no email. O que há é "ouvi falar". Os jovens não sabem escolher um vinho, uma música para um evento, um restaurante para um encontro (e não estou falando só de romance, mas negócios também). Os jovens e muitos adultos – porque não? - não sabem sentar-se à mesa, usar os talheres ou o guardanapo. Cultura? Temos que começar pelo básico: bons modos. Depois passamos para Cultura. Tenho dois filhos com 11 anos e meio de diferença entre eles. Pro primeiro eu dou educação e "pincelo" cultura. Pro segundo a fase "educação" está no estágio "polir verniz" e a cultura... bem, a cultura continua, continua, continua.

Isso da arte ser para poucos é por demais polêmico. É algo pra se dizer em um congresso ou seminário, quando falamos coisas "impressioníveis" (impressionam, mas são horríveis) que servem como impacto e muitas vezes são citadas isoladas e ficam completamente fora de contexto. Costumo começar falando que "temos pouco tempo" justifico durante 20m e depois inverto todo o raciocínio. Se você citar o início irá simplesmente pegar parte do sentido coisa. Sou mais pelo todo. Citar que a arte é para poucos, me faz lembrar das elites e de Mozart. Quando a Flauta Mágica foi encenada pela primeira vez não o foi para os nobres, mas para a plebe. Mozart era o Monarco da época. Salieri era um tremendo compositor e toda aquela trama do filme podem esquecer porque não é verdadeira. Os nobres, portanto os ricos, financiavam as artes mas isso nunca impediu que os pobres a apreciassem. A Igreja usava a arte para impressionar os pobres. Suas igrejas suntuosas e com afrescos, pinturas e esculturas tinha por objetivo impressionar. Era com arte que isso era feito. A música também era usada assim.

Popularizar não é sinônimo de escrachar. Estamos acostumados aqui na nossa América Latina com o analfabetismo. Pessoas bem próximas a nós têm dificuldade em ler e escrever um bilhete. Tem dificuldade com as palavras básicas. Quando trabalhei na construção civil, aprendi a "falar claro" com o Servente. Quem me ensinou foi o grande Seu João, o mestre de obras. Um dia ele chegou pra mim e disse: está muito empolado diga logo o que você quer e gritou: "pega isso e leva pra lá". Era a linguagem deles. Não mudou.

Ainda falta instrução. Se dissermos a um Servente que se ele estudar por 1 ano ele terá um emprego com salário maior, alguém duvida que ele não aceite? O problema é que na sociedade brasileira não há como estudar 1 ano sem trabalhar. Falta credibilidade e garantia a uma proposta como essa. Ninguém acredita que estudar mais signifique ganhar mais. O exemplo difundido é que com curso superior se ganha mais. É um exemplo sem pleno fundamento, que nos leva à triste realidade da super-qualificação. Hoje todo mundo quer fazer uma “pós”, um mestrado, um doutorado... pra que? Quais teses são defendidas? A do desemprego que levou à continuidade do estudo? Conheci vários que emendavam cursos em seqüência. Pessoas sem experiência fazendo MBA. É confuso. Ser um técnico qualificado deveria ser tão ou mais importante. Ter dignidade e humanidade também. Outro dia conheci um brasileiro, marceneiro que se formou (em marcenaria) na Suíça. É preciso dizer mais?

Arte é cultura e a cultura deve ser para todos. Nijinsky e Stravinsky até hoje não são compreendidos com a Sagração da Primavera. Mesmo assim é arte, é cultura e é para todos.

Ausência corpórea na rede

10/08/2006

A internet deixou de ser um fenômeno para estar incorporada na vida da maioria das pessoas. Muitos fazem dela meio de vida ou dependem dela para quase tudo. Houve um tempo em que pedir uma pizza pela WEB era uma piada e um site se propunha a “entregar” pizzas virtuais a qualquer um. Você escolhia os esdrúxulos ingredientes – de parafusos a minhocas – e eles enviavam um link para o infeliz gourmet. Isso foi pelos idos de 96. Hoje se pode até mesmo pedir uma pizza de verdade. Mas o que continua sendo irreal é a presença corpórea na rede. Aqui somos apenas um texto ou uma imagem, muitas vezes não verdadeira. As webcams aparecem como uma alternativa, mas não é a velocidade ainda lenta pra transmissão de vídeo o maior obstáculo pra sua disseminação. Usar uma câmera significa mostrar quem você realmente é. Se você é barrigudo, a proeminência estará lá. Se você se acha feio, não há como ser mais bonito. O uso mais comum é bastante particular e envolve sexo. Mesmo assim ainda o corpo continua ausente. É muitas vezes uma fantasia e nada mais, pois o contato físico inexiste.

Diante disso, o que temos? Estranhamente se pode tudo. Pode-se ser quem não se é, com muito mais facilidade. É possível alcançar lugares distantes e ser outra pessoa. Aquele que gostaríamos de ser ou apenas mais uma pessoa na multidão. Esse último e pouco comum caso, permite que um “famoso” se misture à multidão. Mas quem quer ser mais um na multidão? Muito pouca gente, por isso todos se tornam especialistas em alguma coisa, ou doutores em coisa nenhuma.

Tome o exemplo deste blog. Aqui você lê opiniões diversas sobre vários assuntos, mas como não estou presente na sua frente, não existo, sou mais do que um fantasma, sou um senhor fantasma, um ser virtual e inatingível. Alguém que pode ate não existir e não ser nada daquilo que digo ser.

Infelizmente eu existo e sou palpável - não que queira ser apalpado – mas mesmo assim se eu difamar alguém como irão me punir? As penalidades envolvem sempre privação de alguma liberdade corpórea. As penitenciárias estão cheias de pessoas privadas de suas liberdades. Mesmo aqueles que estão detidos em prisão domiciliar sofrem o mesmo tipo de privação. Mas como privar um fantasma das regalias corpóreas se ele não tem corpo?

Com o tempo, passo a ser comum incluir nas sentenças mais leves, manter o sentenciado longe de seu computador. Mas isso é viável? Isso é possível? Tudo, no nosso mundo moderno envolve um computador. Os próprios telefones estão próximos em parentesco, caixas de banco, terminais de informação, LAN houses, a lista é extensa e não há controle suficiente. Mas falamos de crimes. E quando não há um crime? Quando eu crio um email com pseudônimo e saio enviando emails comprometedores aos meus desafetos? Spam? Nada disso. Posso enviar um email direcionado que passa pelos melhores filtros. É fácil ofender alguém sem olhar nos olhos. E é impossível imaginar emails com imagens pra tudo o que fazemos. Afinal de contas existe a privacidade e ela é inviolável. Ou não?

MP3 Players x CD x LP (1)

19/07/2006

Esse assunto pode render mais do que merece, mas em todo caso, pelo menos nos grupos em que participo, várias hipóteses e teorias tem sido colocadas. Uma das conversas mais interessantes ocorreu quando começamos a imaginar o futuro. Mas o começo mesmo foi com uma matéria em um jornal de São Paulo que dizia o seguinte:

MP3 PLAYERS PORTÁTEIS DECRETAM O FIM DOS CDS. Os CDs devem ficar encostados. Isso porque, na opinião de especialistas da área, as músicas em arquivos digitais vieram para dominar o setor. O mercado de MP3 portátil é a coqueluche do momento e todos os produtos estão sendo adaptados para essa nova conectividade. Explica o gerente de Produtos da Panasonic, Edmilson Santos. Outra vantagem dos MP3s portáteis é a mobilidade. “Dá pra ouvir na academia e depois levar para o carro. Aposto que o MP3 será a febre do Natal, assim como já foram o DVD e o celular” diz o gerente de Produtos da Sony, Edgar Kato. Ele explica que a empresa está de olho na tendência e sua nova linha, inclusive os produtos mais básicos da marca. Também antenada com as novas tecnologias, toda linha da JVC já é compatível com aparelhos de MP3. "Temos CD players que, inclusive, permitem ao motorista controlar as faixas de músicas pelo som e não pelo MP3", afirma Alex Simões, gerente de Produtos da empresa. Ele acredita que com a velocidade da evolução tecnológica, no futuro nem os fios existirão. "A tendência será de aparelhos wireless e Bluetooth." As informações são da edição de domingo de O Estado de S.Paulo/Autos”.

Não há como não concordar e discordar ao mesmo tempo.

O cara que sugeriu o tempo dos CDs, o maestro Karajan (ou foi Bernstein?), foi o mesmo que disse que o futuro da música estava em um chip. Desde essa época, que fico pensando nisso. Aí, a Apple apareceu com o iPOD e todo mundo começou a correr atrás. Não importa o que é, importa que a coisa esteja mudando e nós estamos esperando as alternativas. Antigamente, a indústria fonográfica era rápida. Viajavam pra cá e pra lá em intermináveis reuniões e decidiam alguma coisa. Mas as viagens acabaram os executivos foram demitidos e sobrou pouca gente pra decidir alguma coisa. Sendo assim, a indústria fonográfica se arrasta com a velocidade de um dinossauro ferido em uma nevasca. Isso que estão dizendo do "Natal dos MP3" deve ser parecido com o "Natal das câmeras digitais". Tenho um amigo dono de uma loja de informática que está esperando por isso até hoje. Faz parte de uma estratégia de marketing muito semelhante ao "Disco de Ouro". Vocês sabem como ele é/era calculado? Se souberem é ridículo lembrar daquelas premiações no programa do Chacrinha (depois conto sobre esse negócio). Em suma, esses simulacros, são apenas isso mesmo. Quero saber é se um amante de ópera tem MP3 e se pensa em transformar toda a sua coleção em MP3. No rock, seja qual for, tem muita gente nova e dura, sem dinheiro e isso leva a qualquer outra forma de aquisição de material sonoro. Meu filho tem um MP3 Player e copia o que gosta dos meus discos pra ele ou baixa as músicas na rede. Minha esposa tem um que só tem coisa dos nossos discos e eu tenho um que grava (WAV e MP3) por um microfone ou entrada em linha. Diferente dos iPODs da vida, trabalha com cartão de memória e com algum custo comprei um de 4Gb. Uau, não tem um disco, é um chip! Exato. Isso me leva de volta ao começo. Vamos acabar ouvindo chips musicais. Mas isso é um problema? Em outra lista, fui chamado de ortodoxo porque praguejei contra o uso das "caixinhas de computador" pra ouvir música. Desculpem-me, mas são umas belas porcarias. Não tem graves e os agudos parecem chiados. Conecte seu computador ao microsystem mais vagabundo que você encontrar e terá um som melhor do que qualquer caixinha com sub-woofer do mercado. Estou falando, porque aqui em casa tenho todas as situações. Um dos micros do estúdio, não tem nenhuma dessas caixinhas. Cai direto na mesa e daí pra um amplificador de verdade. O outro, que funciona como ilha de edição (vídeos) tem as tais caixinhas mas tem também uma linha pra mesma mesa do micro de áudio. Minha esposa tem caixinhas convencionais e meu filho tem no micro dele caixas com um sub-woofer. Não dá pra comparar. As caixinhas servem no máximo pra ouvir que um arquivo tem áudio. O sub-woofer serve pra dar a impressão que tem graves. O resto é ilusão. Outra coisa que me assusta é que a nova geração não se preocupa em "perder dados". Tenho psicose com backups. Tenho HDs pra isso e procuro manter backup do backup em DVDs. Meu filho não se importa que o micro da casa da mãe dele esteja com o HD bichado por dois meses e com os dados perdidos. Eu fico louco. Essa geração precisa viver alguns dias de trevas. Black-out total por algumas horas, sem TV, internet, computador e aí eu quero ver quanto tempo vão resistir antes de começarem a brigar entre si. Isso por sinal é o tema do mais lindo conto de Azimov: A Noite. Os avanços tecnológicos não resistem a um black-out. Mas voltando aos MP3: nada contra. Nada contra a música em um chip, mas nada também substitui o mistério de abrir o LP lacrado em plástico negro "Wish You Where Here". Quem fez isso sabe do que estou falando. Quem não fez... Fizesse! (continua)

As lojas estão fechando

29/06/2006

É época de Copa do mundo e parece que o mundo parou. Não o meu.

As lojas de disco estão fechando. A conceituada Galeria do Rock em SP tem cada vez menos lojas. Isso é um fato. A seguir algumas conjeturas a respeito.

O CD trouxe um "problema" pra alguns artistas: o tempo, a duração.

Quando estavam projetando o CD, ficaram na dúvida da capacidade dele. O maestro Karajan (ou seria Bernstein?) foi consultado (conta a lenda) sobre qual deveria ser a capacidade dessa nova midia. Ele disse que deveria poder conter a nona sinfonia de Beethoven inteira. Feito. Lá estavam os quase 70m da obra sem distrações ou intervalos. Mas e os populares? Havia o dobro do espaço do que em um LP. Se este veio pra liberar o tempo dos antigos 78RPM, o CD trouxe espaço demais. Meu segundo CD tem 49m de música, pq não havia mais nada pra colocar, mas como as gravadoras vão justificar um CD que tenha essa duração ou menos? Como empresários eles nunca entenderam o potencial da mídia. Só viram que era barata e dava pra socar um monte de coisas lá dentro.

Certa vez na revista Downbeat, criticava-se a inclusão das bonus track, porque qual seria o motivo dela não ter sido incluída originalmente? Será que o artista não achou que ela estava ruim? Mas era uma forma de se vender mais. No começo estava tudo certo, as pessoas queriam seus LPs naquele novo formato bom de se guardar, que não ocupava espaço. Compraram tudo outra vez (eu fui um desses) e mais um pouco. Quando esse mercado foi atendido, não haviam mais novidades e junto aparecia o MP3. Eu gravava várias coisas em um CD e ouvia no meu computador. Alguém pensou que os players convencionais podiam tocar MP3 e outro cara bolou um aparelho onde tocava MP3, mas sem o CD e enquanto isso era feito, o Napster estava a todo vapor. Conheci um monte de coisas que não conhecia graças a ele. Eu não precisava comprar um CD da Bjorg. Podia pegar as músicas mais interessantes (e que não chegam a dar um CD). Eu e a torcida do flamengo. Enquanto isso acontecia, as gravadoras só pensavam em termos jurídicos e legais. É crime, não pode emprestar, não pode armazenar, não pode dar e fecharam o Napster. Mas aí já tinha tudo o que está aqui agora, muitas outras opções e alternativas.

Falava-se em vender o CD pela internet, com direito a capa e encartes, mas os próprios CDs continuavam daquele jeito pobre, sem encarte sem letras, sem informações. As indústrias tem a capacidade de conseguir produzir muito e baixar o custo, mas pra isso é preciso querer e a sensação que tenho é que eles não queriam. Estavam sempre buscando os Beatles e os Rolling Stones do Século XXI. Não conseguiram. Eles sabem que o baú dos Beatles vai se fechar qualquer dia e eles não tem outra banda com a mesma abrangência. Não conseguiram porque erraram ao imaginarem que seriam eles os responsáveis pela descoberta (quem "descobriu" Elvis?). Enquanto isso o Amyr (a maioria não conhece, não é?) lançou não sei quantos discos por conta própria e como eles vários outros artistas. Por que as gravadoras não apostaram na diversidade da globalização? Porque eles viam na globolização a oportunidade de vender o produto deles, o produto que eles achavam que eu ia querer. O problema dessa globalização é que tentam submeter as diversas etnias a uma "ordem global", quando a globalização deveria levar em conta todas as diversidades regionais e investir nelas. Falando sobre música: se na Bahia o AXÉ é um sucesso, vamos investir nele lá. Não precisamos "globaliza-lo". Se o gaúcho adora gaita de ponto, vamos fazer coletâneas disso lá. Se o paulista adora forró (oops) vendamos forró lá. Aí nós (as gravadoras) aproveitamos que temos uma quantidade absurda de títulos e apresentamos eles em outras regiões onde podemos testar sua penetração. Se elas tivessem agido assim, poderiam descobrir os mercados específicos e não fariam tiragens absurdas que encalhariam. Perceberiam que Alex Saba vende bem na França e fariam quantidades suficientes pra lá e não gastariam tempo imaginando se o mercado na Alemanha tb iria querer. O Amyr vende em Londres? Vamos lança-lo lá. Não agrada na Nova Zelândia? Então pegamos uns 100 discos e levamos pra lá, só pra as pessoas conhecerem. Não, ao invés disso querem que eu engula Jorge Versílio, Orlando Moraes, Caetano, Gil, Roupa Nova, Catinguelê, etc. Alguém conhece Ricardo Calafate? Alguém conhece Rodrigo Campelo? Fernando Moura, Leroy Fistch (acho que errei a grafia), Hermeto Pascoal, Itiberê, Paulo Russo, Jota Moraes, Fredera...

Menos é mais. Eles não aprenderam a lição. As lojas de disco estão fechando porque há um impasse. Estamos inciando um perigoso ciclo vicioso
1) todo mundo está baixando músicas em MP3 da internet;
2) as lojas não tem o que vender nem pra que vender e fecham;
3) as gravadoras não tem aonde vender e não produzem;
4) os blogs não tem o que postar e acabam
5) nós ficamos sem ter o que ouvir a não ser o que está nas nossas coleções,
6) aí coloco minha coleção em um blog da internet pros amigos baixarem.

Em tempo Bernstein (agora com certeza) disse que o futuro da música seria uma pastilha. Falou isso há 20 anos atrás e achei que ele podia ter razão. Hoje acho que ele estava certíssimo. Pras gravadoras dou um conselho: olhem pra estante. Vendam livros cheios de informações sobre os artistas, sobre as músicas, com fotos lindas que possam ser destacadas pra serem emolduradas na parede dos quartos adolescentes e nesses livros coloquem um CD de brinde.

Porque trabalhamos demais?

20/06/2006

Uma revista Exame Especial, que traz na capa um burro atrás de uma mesa, pergunta porque trabalhamos demais. Nessa matéria eles citam um velho conhecido meu, autor no famoso "Ócio Criativo" Domenico diMasi. Fazem aquela avaliação superficial deles, mas como matéria de capa, até que chegam a algumas conclusões. Nada novo, mas mostram pra aqueles que estão ralando feito condenados que a luz no final do túnel pode estar do outro lado.

Isso do trabalho em excesso é o tema principal aqui neste espaço. Acho um absurdo a quantidade de horas que as pessoas gastam nesse tal de "escritório". Um artigo de 1988 de J.C.Dvorak na revista PC Computing, dizia que em 10 anos os escritórios seriam apenas locais de encontros, que as pessoas não precisariam comparecer pra trabalhar porque todas as ferramentas necessárias estariam nas mãos delas em casa. Mostrou alguns exemplos, mas esqueceu o mais importante.

Dvorak esqueceu o mais retrógrado dos retrógrados, o mais estúpidos dos seres que aqueles que ousam pronunciar seu nome chamam de chefe. Chefe inteligente é uma definição inexistente. Pela própria definição de chefe, ele não pode ser inteligente. Associar as duas palavras é crime a ser punido pelo novo código penal.

O chefe é aquele que participa das reuniões onde o chefe do chefe informa o que quer. Como o chefe é burro, ele chega contanto como foi a reunião, quem estava, quantos cafezinhos foram servidos, pra só depois lembrar que o tema era "vamos acabar com os que não trabalham". O que soa como um suicídio coletivo das chefias e ólíticos, trata-se na verdade de implantar os mais retrógrados meios de "controle de produtividade" através da presença do empregado no escritório. Argh!!!

As bestas que ocupam cargos de chefia, associam a presença do empregado à sua produtividade. Não acreditam que alguém possa ser produtivo andando na rua ou mesmo jogando tênis. Por isso eles são umas bestas. Para manter os empregados enjaulados, é preciso dar-lhes as melhores condições inimagináveis de trabalho. Ar-condicionado, um bom comuptador, silêncio e privacidade não precisam ser mencionados porque são o mínimo que se espera. Mas então mais o que? Mais o que cada um precisar. Um vai precisar de um som alto nas orelhas pra se concentrar, outro vai ficar jogando io-io por horas até ter um "insight", outro precisa dar uma volta na praça ou tem aquele que precisa se sentir livre.

Tem o tipo do cara, que só vai conseguir resolver um problema se estiver tocando guitarra, se estiver em uma onda, se não estiver entre quatro paredes forçado a pensar em um ambiente muitas vezes mais semelhante à uma feira livre do que a uma biblioteca.

Como existem diferentes personalidades, voce pode encontrar com um que precise de tumulto pra pensar ou com seu oposto. Importante é que ambos tenham privacidade. Um pra fazer todo o tumulto que precisa e o outro pra ter o silêncio absoluto.

Certa vez ouvi o presidente do Lucent Labs em uma entrevista. Perguntaram a ele como era ser chefe de uma seleção premiada com Nobel. Ele respondeu com muita simplicidade, que bastava "ver o que eles precisam". Segundo ele o bom chefe é aquele que não interfere na atividade e que ainda propicia melhores condições de trabalho. Com essa receita de sucesso, quando voce olhar novamente pro seu chefe, gordo atrás da mesa, querendo saber porque voce chegou dois minutos atrasado e descontando até os décimos de atraso, mas te obrigando a bater o cartão de ponto no horário e depois voltar pra sua mesa e continuar o trabalho, não omate. Mude de emprego. Mude sem medo, porque nem ele nem essa empresa vão durar muito e é melhor que você esteja fora dela o mais rápido possível pra poder aproveitar o Sol, o sal, o mar, as ondas e ter uma grande idéia de sucesso.

Fechem as indústrias

06/06/2006

Eu estava chegando no estúdio outro dia, quando me ocorreu uma idéia muito boa e gostaria de compartilha-la com algum executivo de gravadora que por ventura leia esse espaço.

A idéia era sobre o futuro da indústria. Um tema recorrente e polêmica certa quando me reuno com os músicos da Petit Orkestra Brancaleone depois dos ensaios. Há muita reclamação, pelo menos dos executivos que me procuram por conselhos, quanto à pirataria, quanto ao mercado de vendas on-line de músicas e sobre o que fazer com algumas estrelas estriladas. Eles não veêm futuro na idústria da música. Nem eu. Faz tempo que uma pequena idéia está germinando mas nunca tinha chegado à uma conclusão e é simples. Não há mesmo futuro na idústria da música como a conhecemos. Ao contrário de prognósticos de sociologistas colegas meus, não foi o emprego formal o primeiro a ser engolido pela era da informação (sucedânea da era industrial que vivemos até alguns anos atrás). O que primeiro desaparece nessa nova revolução, é a indústria musical.

Não há mais espaço para o modelo antigo. As grandes gravadoras não detem mais nenhum conhecimento privilegiado e nem são capazes de antecipar nenhuma tendência. Seus executivos abastados e gordos devem aconselhar o fechamento das fábricas e procurar urgentemente outro emprego - aviso logo que a feira aqui da rua está sempre carente de verdureiros.

Chega da palhaçada a que somos submetidos como ouvintes, como artistas, como público, como criadores. Ninguém mais aguenta a falta de talento, as repetições de fórmulas ou os sem número clones. É só um surfista fazer sucesso que logo aparecem centenas de outros. Imediatamente todo surfista é um tremendo compositor de canções suaves "como um lual à lua cheia".

Fechem as indústrias e abandonem esse negócio. Já tem gente ocupando o lugar que voces ainda não liberaram. Gente que faz, gente que conhece, gente que toca e gente que produz. As velhas fórmulas estão desgastadas e ficar quebrando CDs com rolo compressor em praça pública, só demonstra que o que voces realmente são, por não saberem reciclar. Os artistas não precisam de vocês. O público está aí mesmo e é só esticar o braço. Vai ser bom finalmente ouvir uma rádio em que alguém selecionou o que estamos ouvindo exclusivamente por gosto e não por "pressão".

A Arte de Derrubar Pessoas

Publicado originalmente em 21/05/2006

Existem os lenhadores. Alguns não são muito bem vistos por conta de acabarem com as florestas e todas essas besteiras politicamente corretas, mas existem aqueles que por profissão, trabalham dentro das leis e não causam nada disso.

Existem entretantos os "derrubadores de pessoas" ou "lenhadores de gente". São seres da raça humana, especialistas em acabar com seu bom humor. É aquela pessoa que você encontra na rua e te diz: "Mas como você está abatido!" Não se trata de uma pergunta e nem de uma exclamação após sua descrição de um problema, é a frase pura e simples. Equivale à primeira porrada do machado. Depois esse infeliz te olha com compaixão e deixa entrever o quão magnânimo ele é por estar ali conversando com você. É um "lenhador de gente". Quando o vir, afaste-se rápido, porque como ele não tem amigos (quem seria amigo de uma peça dessas?) ele faz questão de vir atrás de você.

Quer identificar facilmente um "lenhador de gente"? Repare nas festas de família (ele costuma estar sempre no meio dos que são obrigados à sua convivência) quem costuma pular na frente da máquina de retratos. Não valem as crianças, que fazem por brincadeira. Repare nos adultos. Tem sempre um chato que está presente na maioria das fotos e não sabe quando deve ficar longe do flash.

No local de trabalho, o "lenhador de gente" não é aquele ardiloso que quer o seu lugar. É aquele bobo que se acha o mais importante do escritório (ou seja lá onde você trabalha), mas que não se dá conta de que é apenas tolerado, porque já é muito antigo por ali ou porque tem algum parente na chefia.

A arte de derrubar pessoas, infelizmente é muito praticada. Alguns deliciam-se quando percebem que suas conversas fazem com que o interlocutor se sinta mal. A melhor forma de lidar com esses é afastando-se. Eles precisam de platéia, mesmo que com apenas um atendente. Eles são narcisistas e egocentricos, mas não facilmente identificaveis. Com o isolamento, a tendência é que eles revejam o seu relacionamento com os outros, mas é apenas uma tendência, não uma regra. Dickens abordou muito bem vários aspectos da personalidade dos lenhadores de gente e seus romaces e contos podem ser uma boa referência para aqueles que desejem se aprofundar no assunto.

iNFormação

Publicado originalmente em 02/05/2006

Nelson Vasconcelos, na sua coluna de 2 de maio de 2006, fala do epaper (tratado no meu primeiro livro, disponível pra download). Ali ele conta como o epaper será capaz de armazenar 30 jornais, 4 livros e tantas outras coisas. Pra que? Será que as pessoas irão melhorar de vida com toda essa quantidade de informações? Não é à toa o sucesso das ferramentas de busca.

Digo o seguinte: a informação (nessa era da informação) está sendo tratada da maneira errada. As pessoas começam a "passar adiante" sem lerem. Os emails desnecessários são como conversa em festa: melhor sem eles. O barulho que fazem é maior do que sua importancia real.

Acima de tudo é preciso ler. Não adianta TER. Livros na minha estante não me transformam em um doutor, por mais complicados e profundos eles sejam. A sociedade da informação está sendo disvirtuada para a do consumismo desenfreado. Pra todo lugar que se olha se vê um apelo para que se tenha isso ou aquilo. Pra que se compre, pra que se justifique a existencia das fabricas, dos executivos e dos operários (que coisa mais antiga - essa não é a era da informação?). A preocupação da maioria dos kovens é em possuir uma marca, um novo modelo. Como eles levarão isso pra sua vida adulta? Vão querer possuir a esposa, os filhos?

Não é preciso TER pra VIR A SER (um conceito epistemológico interessante, mas profundo demais pra cá). Existe mais informação do que eu sou capaz de consumir, portanto, não devo consumir toda informação disponível. NÃO PRECISO! Vivo muito bem sem saber o nome das focas do zoológico Neozelandes. Vivo muito bem sem saber que o que o vizinho do amigo do primo do amigo do tio da amiga da minha prima está fazendo.

Caminhos de forma acelerada pra OVERLOAD INFORMATION (por sinal uma bela música do Living Colour) e quando chegarmos lá será que vamos voltar?

Isso tudo me lembra nas Grandes Guerras, quando era importante TER mais tanques, mas aviões, mais bombas. Depois passamos um perído (os 60) onde o interior era o que ontava, seguindo de um marasmo cultural e pessoal (os 80). Se estamos de volta aos idos de 40/50, não quero estar por aqui quando o consumismo (que está aqui agora) voltar (na irritante mania que a vida tem em ser cíclica) porque se não mudarmos alguma coisa agora, ele será mais insuportável do que é hoje.

Criatividade e planejamento

Publicado originalmente em 26/04/2006

Eu tenho uma (de várias) teroria, que se baseia em princípios sociológicos, antropológicos, psicológicos e musicais.

Minha tese de PhD na Sorbonne tratará desse assunto, portanto não me custa antecipar.

A criatividade pode ser limitada. Não estou me referindo a "cercear" a criatividade, mas àqueles que possuem pouca criatividade, mas que por uma obra do destino conseguem expo-la no momento certo. Creio que isso foi o caso do Mike Oldfield. Tubular Bells não é fantástico, mas é muito diferente do que se ouvia na época. Apenas duas músicas, uma de cada lado do LP, um único músico, jovem, tocando todos os instrumentos, realmente foi um projeto arriscado. Mas daí querer que todos os discos, todas as músicas sejam maravilhosas é demais. Quantos Van Gogh, quantos Matisse, Picasso, Da Vinci o mundo teve?

Alguém citou os Beatles? Com certeza era mais fácil com 5 elementos pensando e buscando soluções tudo. Algumas vezes até juntos. No album do "Sargento Pimenta" são claras as diferenças entre cada um dos membros, e poderia me perder me atendo aos detalhes, por isso prefiro pular essa parte.

Acima, citei pintores. Deveria citar músicos. Tirando Mozart, Chopin e aqueles que morreram jovens, quais nomes surgem? Que músicos foram imensa e intensamente criativos em idade avançada? Bach, Stravinsky, Bela Bartock, Aaron Copland, Philip Glass e outros. Mas só clássicos? Por que não Neil Young, Van Morrison, Adrian Legg, Peter Gabriel?
O que acontecia antigamente, e não tão antigamente assim, é que se morria jovem. Alguém com 50 anos já era um velho. Hoje se voce chamar alguém com 70 anos de ancião, voce provavelmente vai apanhar.

Devia-se viver a vida intensamente até os 30 porque depois disso não gavia mais muita vida pra viver. As doenças apareciam, se não fossem as guerras, a família consumia todas as energias, os netos, bisnetos e tudo continuava de uma maneira cíclica, repetitiva, redundante... chata.

Gente, o mundo mudou. A revolução industrial acabou. Estamos em plena era da informação. Mas o mais importante é que a perspectiva de vida aumentou. Ela vinha aumentando, mas a vida parecia não ter acompanhado. As pessoas se aposentavam e não sabiam o que fazer. Os homens morriam deprimidos, bêbados e com o paletó do pijama. Estavam acostumados a trabalhar. A vida deles não fazia sentido sem o trabalho. Como ficar em casa? As esposas achavam que o homem em casa só atrapalhava. Elas ficavam em casa e estavam acostumadas à solidão. Hoje elas tambem estão perdendo a capacidade de se divertir. Quais os planos pra aposentadoria? Quais os planos pra quando for a hora de aproveitar a vida? terceira Idade? Façam-me o favor, isso é coisa de fruta. Fruta é verde, madura e podre. O homem passa pela infância, a adolescência, a juventude, a maturidade e a velhice (quem leu meu livro sabe de quem é essa citação).

Tive o prazer de conhecer um Assistente Social que estava louco pra se aposentar pra poder se dedicar à pesquisa musical. Aposentou-se e dedicou-se. Ele tinha um plano. Quem tem?

As coisas mudaram. Antigamente podia-se dizer que o período criativo era aquele por volta dos 30 anos. Dizia-se isso porque era o ápice da vida do home. Depois disso era o declínio e a morte. Mas isso não vale hoje. Depois que nos livramos da obrigação do sustento, é a hora de nos dedicarmos à criatividade, seja ela qual for, seja ela voltada para que área for.

As empresas (pseudo) modernas fazem planos de demissão voluntária e aposentadoria, livrando-se do que elas tem de mais importante: experiência. Elas estão perdidas. Sangue jovem é ótimo, mas o equilíbrio entre mentes jovens e mentes experientes é o que faz as empresas irem pra frente. Steve Jobs é velho? Bill Gates é velho? Só porque o pessoal do Google é jovem, não quer dizer que o mundo seja dos jovens. O mundo é de todos nós. Devemos lutar para que a criatividade flua e não seja interrompida. Trata-se de um fluxo criativo que pode acontecer por impulso quando se é jovem ou por experiência quando se é velho. Ser velho não é um demérito. Ser retrógrado é. E conheço jovens retrógrados. Jovens que sempre foram velhos, porque não conseguem pensar à frente. Não conseguem planejar seus próximos 30 anos de vida.

Criatividade é uma questão de treino. É uma questão de fluides. Agora, com a pressão de fazer sempre mais, simplesmente porque se deve cumprir um contrato, fica difícil esperar pelo melhor. Quando Jeff Beck disse que iria se dedicar à sua coleção de carros antigos e tocar menos, acharam que era falta de criatividade. Por que? Ele tem o direito de fazer aquilo que gosta. Se ele gosta de carros antigos, podemos lamentar que não o tenhamos mais tão ativo, mas por outro lado ele é um excelente exemplo de planejamento. Planejar é preciso. Sempre.

Gravar ou não gravar?

Publicado originalmente em 10/04/2006

Quando não tinha internet, a gente sintonizava a EldoPop ou outra rádio e gravava de lá.
Os amigos apareciam em casa com um LP legal e a gente gravava (legalmente esses simples atos são pirataria).
Então, por favor, desinventem o gravado K7. Desinventem tudo o que grava.
Quem não tem dinheiro não compra. Peter Gabriel falou que se ele fosse estudante hoje, com certeza trocaria MP3, mas ele não é mais e tem que zelar pela sua criação, mas a que custo?
Tem gente que fala de música e não tem CD em casa, só gravava compilações em MP3 pra ouvir no computador.
Aí inventaram os tocadores de MP3, os "radios" de carro que tocam MP3. Portanto solicito que desinventem isso tudo.
Se eu não poder mais gravar nada, nem em K7, vou conhecer muito menos, isso é certo, já que muita coisa que passei a conhecer veio de ouvir falar e procurar uma MP3 pra ouvir. Se o artista fez trabalhos que me agradaram, eu vou comprar, se só fez aquilo, vou ficar com aquela música só, em um MP3 player ou outro.
Se desinventarem tudo, voltaremos à época do rádio. Estaremos mais propícios a comprar e a nos desiludirmos. Seremos mais seletivos no que comprar. Mas não somos?
O que a indústria (de música) não consegue acompanhar é o que outra indústria está desenvolvendo.
Um CD ão difere em nada de um LP. Um DVD é um VHS. Nisso nada mudou, mas todo o entorno está diferente.
Um professor, um quadro negro, uma sala de aula. Nada disso mudou. Se meu avô voltasse aqui hoje, reconheceria facilmente uma sala de aula, mas ficaria intrigado com um computador e com uma rádio em um computador. Ele era técnico em eletrônica e um rádio transistor foi uma novidade e tanto na época dele, mas ainda se parecia com um rádio.
O que será que querem de nós?
Paramos de consumir música ou os produtos eletrônicos que são feitos pra ouvi-la?
Quanto tempo vai levar pra que todo DVD player será um gravador?
Quanto tempo vai levar pra indústria (musical) perceber que o número de artistas aumentou em muito, mas ela (a indústria) continua na primitiva era dos LPs, gastando em promoção e jabá o que deveria ser investido em música.
Desinventem o mundo, banam a criatividade humana.
Só que sem criatividade não haverá músicos, artistas e afins.
Sem eles também não haverá essa indústria retrógroda e viciada.
Será que é isso que a indústria (da música) quer?

Heróis

Publicado originalmente em 10/04/2006

Alguns heróis são conhecidos. Outros não.
Alguns heróis tem reconhecimento. Outros não.
Alguns heróis lutam contra monstros. Outros não.
Alguns heróis enfrentam um único vilão em toda sua vida. Outros não.
Alguns heróis usam escudo, espada e elmo. Outros não.
Alguns heróis estão nos livros. Outros não.
E porque será?
Porque os heróis mais importantes são os que vendem a batalha do dia-a-dia, são os que não precisam da espada, são aqueles que lutam contra a ignorância, são os que constroem estradas, mas não as comuns. Estradas de conhecimento por onde os filhos e as gerações futuras poderão passar, certos de que o caminho é seguro, porque por ali já passou um heróis, com nome e sobrenome, mas conhecido de poucos.

Aos meus heróis!

Tem dias...

publicado originalmente em 08/04/2006

Tem dias que a gente quer ficar em um canto, deixando que a dor doa só. Tem vezes que a gente nem sabe porque doi. Só sabe que dói. E tem outras, que uma besteira deflagra uma enorme dor. Sempre que dói, é no mesmo lugar, um ponto cirúrgicamente preciso, se fosse possível extirpar a dor. Localize o final do externo (se é que esse osso ainda tem esse nome) e desça um dedo. Pronto. Se apertar aí, como dói. Mas a dor passa. Tudo passa. Fica a saudade de um beijo, de um abraço, de um afago, que fariam com que ela sarasse muito mais rápido.

Celulares e celulares

Publicado originalmente em 06/04/2006

Terça feira passada saí pra almoçar com meu filho. Fomos ao restaurante de sempre e lá, depois de sentarmos em nossa mesa - não que tenhamos uma mesa - presenciamos uma cena estranha. Um senhor falava alto, sozinho enquanto andava na nossa direção. Sentou-se na mesa antes da nossa e reparei que ele estava usando um heaphone bluetooth preso na orelha (ele deve ser fã da Jornada nas Estrelas, porque aquilo parece mesmo futurístico). Uma moça sentou-se com ele à mesa (o restaurante é a quilo) e ele continuou falando com quem quer que estivesse do outro lado da linha. Comentei com meu amigo gerente, que disse que são vários que fazem isso, mas geralmente sozinhos. Outro dia em uma farmácia tinha um cara gritando "Márcia! MÁRCIA!!!" e todos olhavam espanrados pra ele, encostado na porta de vidro, olhando pra baixo e com a orelha que não tinha o tal headphone virada pra nós. Não dava pra saber o que era. Custei a entender que ele tentava fazer com que o "voice call" do telefone dele o "ouvisse". Estranho.

Esses caras, devem achar o máximo usar a "última palavra" em tecnologia "de orelha", mas quando eles começam a interferir no meu almoço - a ligação devia estar ruim, porque ele falava muito alto - fico chateado. Tecnologia é legal, mas um lápis também é tecnologia. Se depois inventaram uma caneta, é outra história. O problema é que algumas pessoas que querem ser modernas e "antenadas", esquecem uma coisa muito elementar: a hora do almoço. Caramba, aquele cara falou o tempo todo sobre negócios, não prestou atenção no que comeu e estava acompanhado. Na frente dele estava uma amiga, ou colega e ele não dirigiu nenhuma palavra à ela. Levantaram-se ainda falando com o interlocutor do outro lado da linha. Algum dia, quanto tiver um enfarte, vai dizer que foi a carne gordurosa ou a azeitona da empada, mas na verdade, o comportamento "workaolic" é seu maior inimigo. Saia com os amigos, relaxe, esqueça da vida, mas torne isso um hábito. Não deixe pra fazer isso nas férias. Faça isso diariamente. Quanto ao uso do seu gadget favorito, não se importe em parecer ridículo usando algo na orelha, no nariz - tanto faz o lugar - só cuidado pra não deixar passar por você uma boa conversa, uma palavra amiga ou um abraço por causa de uma novidade, geralmente não tão nova quanto voce gostaria.

O que eu quero deixar claro hoje não é a tecnologia, mas o saber conversar. O cara do restaurante não conversou com a colega que foi com ele, o cara na farmácia não falou com nenhuma das balconistas. Faltando relacionamento. É preciso se relacionar o tempo todo, com a balconista, o garçom, o técnico de eletronica, o caixa do mercado, a família, todo mundo. Esses relacionamentos resultam no mínimo em melhor atendimento. O garçon que traz seu prato, percebe que voce prestou atenção nele, no serviço dele. Prestar atenção nas pessoas que estão à nossa volta faz muito bem. Faz muito bem pra nós e pra elas e não custa nada, só um pouco de tempo. O tempo anda sendo muito mau usado, mas essa conversa fica pra outro dia.

Yusuf Yslam

Publicado originalmente em 04/04/2006

Quando eu era criança, com um violão no colo, descobri um tal de Cat Stevens. Eu gostava e não sabia porque. Alguns anos depois, ao retomar aos mesmos discos, sabendo um pouco mais da lingua nativa de CS, descobri que gostava muito daquelas letras. Era como se algo novo aparecesse de repente outra vez. Achava que havia uma angústia nada condizente com todo o aparato pop que o cercava, mas eu consumia. Outros tantos anos depois veio a notícia de que ele largara tudo pela religião e que "trocara" seu nome por Ysuf Islam. Os jornais (internet nem pensar ainda) comentaram e foi esquecido. Quando a rede estava começando surgiu o boato de que ele voltara a gravar e achei (com dificuldade porque as ferramentas de busca eram incipientes) uma capa e um comentário. Mais anos se passaram até que eu visse sua foto em um jornal e essa espera foi até aparecer poucos anos atrás um DVD com um antigo show e uma nova entrevista. Coerência foi o que saltou aos olhos. Parecia que tudo o que ele escrevera era do fundo do coração e que precisou largar o turbilhão do show business pra encontrar com seu verdadeiro eu. Agora eu estava assistindo a um video dele com Peter Gabriel e de novo a mesma sensação de coerência. Quantos homens/mulheres conseguem ser coerentes? Quantos humanos conseguem se transformar para que seu sonho se torne real? Estamos imobilizados. As desculpas são muitas. Nossa correria, nosso cotidiário, nosso dia-a-dia nos permite sermos falhos, justifica nossas falhas e nos habituamos com isso. Porque? Porque não se pode mudar? Porque temos que ficar arraigados a valores mutantes? Acho que no fundo é porque não temos valores e quando finalmente os encontramos, alguém nos diz que é tarde. Porque é tarde? Tarde pra que? Alguém sabe quanto tempo resta? Se souber, por favor me diga, porque nos movemos na sombra do que não queremos encontrar. Caminhamos como condenados que querem aproveitar ao máximo ou estão resignados com seu futuro. Não há futuro... assim.

Estréia

Publicado originalmente em 03/04/2006

Como toda estréia há um frio na barriga. Demorei pra caramba pensando se fazia um coisa ssim ou não, até que o número de "mensagens" em seu cérebro superou o normal e resolvi que poderia ser um bom espaço pra "publicar" todos os pensamentos desconexos que me acometem. Como essa é a primeira, não vou me alongar, mas aqui vc vai poder ler (se tiver paciência) minhas considerações sobre o que há por aí, de música a política, de vida a trabalho (gostaram da oposição?), enfim, sobre tudo e sobre ninguém.

Abraços
Alex