quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Resposta ao Luciano (2)

Em todos esses anos, muitas empresas fizeram únicamente isso. Trabalharam como se fossem fábricas.
Acredito que a mediocridade dos que estavam nos cargos de gerencia, fazia com que eles se sentissem seguros.Claro que seguros. Eles não tinham condições de inovar e ao contrário do exemplo do Luciano (veja post anterior), a maioria não queria inovação nenhuma.
Inovação passa por questionamento. Significa repensar ou pensar de maneira diferente. Significa discordar.
Nada pior do que um subalterno que discorde do chefe. Nada pior do que um subalterno que encontra uma maneira mais fácil ou diferente de fazer aquela tarefa. Ele está indo contra a autoridade do chefe, do gerente. A conclusão é que a maioria dos gerentes não gerencia. A maioria dos que estão nesse tipo de cargo, chegaram a ele mostrando resultados pre-fabricados.
Sempre conto a história do Presidente do Laboratório Luncent, quando perguntaram a ele como era ser chefe de tantos ganhadores do Nobel. Ele respondeu que bastava saber se eles tinham tudo o que precisavam e se estavam satisfeitos.
Muitos anos atrás, meu chefe no BNH avisou que precisaríamos virar a noite executando um trabalho de emergência para o dia seguinte. Lá pelas 23hs, ele apareceu com uma bandeja enorme com um bule de café e um pote de biscoitos. Todos estranhamos aquele comportamento dele, mas o que ele estava fazendo era cuidando da sua equipe. Doutor Vital estava fazendo o mesmo que seu colega do Luncent, guardadas as devidas proporções.
Ainda hoje os chefes e gerentes se sentem mais como feitores de escravos dos séculos passados do que como incentivadores da equipe. Se tudo der errado a culpa é da equipe. Se der certo, o mérito é dele que "soube conduzir a equipe da maneira certa". Isso não parece errado?
Não vejo muita chance disso mudar enquanto os resultados não forem avaliados de maneira subjetiva.
Uma discussão antiga em um grupo de arquitetos era de que as soluções muitas vezes surgiam quando colocávamos o pé no onibus, estávamos no banho em casa e nos lugares mais inusitados. Mas aí vinha o chefe e dizia que tínhamos que cumprir horário e que nós ganhávamos para resolver os problemas ali e projetar ali.
Ora, como vc vai comandar o cérebro? Nós treinamos nosso cérebro, mas ainda mais hoje, em tempos de tantas formas possíveis de conexão, ainda querem que o funcionário/empregado, esteja sentado na cadeira "trabalhando". Isso é oriundo da Rebolução Industrial. Em uma fábrica o infeliz precisa ficar ali pq ali estão as ferramentas da produção, mas isso não se aplica a nenhum trabalho intelectual. O mundo em sua grande parte ainda não está preparado para a era que estamos vivendo a Era da Informação.
É pena.

domingo, 29 de novembro de 2009

A Carta do Luciano Pires (2)

SEQUÊNCIA E CONSEQUÊNCIA (por Luciano Pires)

Numa de minhas leituras topei com um conceito muito interessante, que resume em poucas palavras o que deveria ser a técnica de administração de nossos negócios e vidas. O texto dizia que "deixamos de viver a era em que gerenciamos sequências, para viver a era de gerenciar
consequências."

Gerenciar consequências, não apenas sequências! Brilhante!
Desde o começo dos anos noventa, na esteira dos programas de qualidade originários dos EUA, mas que ganharam notoriedade no Japão, a maior parte do que foi produzido pelos teóricos da administração focou nas técnicas e habilidades para se conduzir com eficiência uma fábrica. Mas
não apenas uma fábrica como aquela do estereótipo: um forno e um torno transformando matéria-prima em produtos. A tal "fábrica" a que me refiro é aquela que define um processo: uma organização que produz um produto ou serviço, com resultados mensuráveis e foco na redução de custos. É possível conduzir um escritório de advocacia como se fosse uma fábrica. É possível dirigir uma farmácia como uma fábrica. Uma academia de ginástica. Uma escola. Um clube. Uma igreja. Qualquer empreendimento.

E o que se viu nos últimos dez ou quinze anos foi exatamente isso: a lenta transformação dos empreendimentos em fábricas. E os profissionais não passaram por essa incólumes: foram aos poucos tornando-se "gerenciadores de sequências". Como fazer aquilo que sempre fizemos de forma cada vez mais rápida, barata e eficiente?

Existem empreendimentos em que a "gerência das sequências" é fundamental. Uma fábrica de remédios, por exemplo. Mas mesmo essas empresas têm determinadas áreas onde o conceito de "fábrica" definido acima não se aplica. Normalmente aquelas áreas "humanas", baseadas em relacionamentos, em atividades criativas ou que exigem reação imediata e flexibilidade.

O problema é que a "flexibilidade" é inimiga da "sequência". Flexibilidade abre espaço para riscos, para novidades, para imprevistos, tudo aquilo que um gerente de sequências não quer.

Esse foi o mundo que construímos de 1990 para cá: o mundo das sequências.

Mas repentinamente a coisa começou a mudar. De saco cheio com as sequências, queremos o que ninguém fez, o inusitado. É quando surge um conflito gigantesco, olha só: eu contrato aquela menina de 20 anos para trabalhar na empresa. Mostro-lhe seu local de trabalho, passo as rotinas e digo:

- Olha aqui: esta é sua rotina. Siga exatamente cada passo do processo conforme escrito neste manual. Não saia do processo, entendeu? Se você sair o auditor da ISO te pega!
- S-s-sim s-senhor!
- Ah! E vê se aproveita pra inovar!

Não tem algo errado aí? Gerenciadores de sequências são escravos dos processos. Não estão ali para criar soluções, mas para garantir que as coisas aconteçam em conformidade com o processo que alguém desenhou. Como é que um gerenciador de sequências pode contribuir para além da rotina? Só quando começar a gerenciar consequências.

Mas ai é tema pra outro artigo.

Luciano Pires
http://www.lucianopires.com.br

domingo, 15 de novembro de 2009

A moça da UNIBAN

O que primeiro me chama a atenção é o título (do perfil dela no orkut): "Deus deu a vida para cada um cuida da sua" ou falta uma letra, uma vírgula ou eu não entendi a reforma ortográfica. O link (lá do orkut) é: http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=17084925465572698740

Isso mesmo, essa é a moça de vestido vermelho do "escândalo" da UNIBAN. O perfil, que o blog: http://controleremoto.tv/blog/2009/11/a-profecia-de-geisy-esta-se-realizando/#more-2372 cita, enfatiza e diz pra não visitarmos, é igual a todos os outros milhares, centenas de milhares que existem na internet e no Orkut. Uma moça reconchuda que tem a alta estima elevada e que coloca no Orkut fotos de biquini. Alguma novidade nisso?

Nenhuma. A novidade está no estardalhaço que os colegas dela fizeram. Nos comentários que ouço no meu clube de que "Ah, ela tem cara de garota de programa!" (de uma senhora reconchuda atrás de mim conversando com outras senhoras igualmente reconchudas e em biquinis menores do que o necessário) "Claro que ela estava procurando aumentar o michê!!!" (de uma senhora bastante maquiada para uma tarde na piscina e que parece entender bastante do assunto) e outra coisas similares, até um "Sei não, não vi, mas ela deve ser gostosona pra tarem falando tanto!" dito por um coroa pansudo no bar do mesmo tradicional clube.

O texto em "QUEM SOU EU" no perfil da jovem estudante, chega a assustar. Mas assusta mais ver que as "comunidades" orkutianas das quais participa são de lésbicas e as "amigas" ou professam o mesmo credo ou são em maior número que os admiradores. Parece que no tradicional clube ninguém acertou nada... nem perto. Quem realmente será essa móça? Ela estava em idade de descobrir, mas depois de tudo o que aconteceu, duvido que ela mesma venha a descobrir. Pelo menos nos próximos anos.

Mas o que mais me impressiona nessa história toda é a nossa capacidade de criarmos celebridades descartáveis.

Quando Andy Warhol falou que no futuro teríamos todos 15m de fama, eu entendi aquilo pelo lado errado. Deveria ter entendido que não seria EU famoso por 15m, mas que NÓS, como SOCIEDADE, estaríamos criando famosos, celebridades, a cada 15m... 10m... 9... 8... 7 ... 6... 5... 4... 3... 2... 1...
ps: pra quem quer ver as fotos, apagadas do perfil do Orkut por recomendação dos advogados, há a opção do Youtuve: http://www.youtube.com/watch?v=LJnL3C_6C_Q&feature=related

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Organizações Pedagógicas Modernas

Fico espantado em como e por anda anda a pedagogia nos dias de hoje. Muitos e muitos anos atrás, a disciplina em sala de aula era rígida, rigorosa. Podia não ser correta, mas as regras eram claras: silêncio e atenção. No nosso colégio, o diretor (Frei João) quando entrava na sala, com as mangas da batina preta arregaçadas, nunca era um bom sinal. Seu discurso, em um portunhol que conhecíamos bem, invariavelmente terminava com "Da primeirra vez jo avisso, da segunda jo adverto, da tercera, jo arrasso sem dó nem pietá". Nunca chegamos à terceira etapa.

Hoje em dia, os livros estão muito mais interessantes, agradáveis e instigantes (boa essa). Concorrem com televisão, games e computador com uma linguagem muito mais dinâmica. Lamentavelmente as salas de aula continuam as mesmas.

Alguns anos atrás, o Professor Longo (do Observatório Nacional) deu uma entrevista a um documentário produzido pela produtora que minha esposa dirigia e fez um comentário que não me sai da cabeça. Ele disse que se o avô dele voltasse aos nossos dias, ele não saberia o que era um pen drive (que ele tinha nas mãos e mostrou para as câmeras), mas que reconheceria facilmente uma sala de aula. Por mais esforço (se é que fazem) e boas intenções, a sala de aula parece ser algo imutável. Trocaram o quadro negro por um verde (para acalmar as crianças diziam lá no nosso colégio). Depois virou aquele quadro branco para canetas hidrográficas e agora algumas escolas estão instalado os tais eBoards, que parecem telas gigantes de computador com imagens geradas em um projetor preso no teto. Tudo muito interessante, bonito e igual ao velho quadro negro.

Quando surgiu o rádio, ele trazia a voz das pessoas e indefectíveis novelas que eram adaptações de peças de teatro. Era o som que não havia no cinema mudo. A televisão apareceu copiando o rádio, com programas que pareciam estáticos e levou anos até alcançar uma linguagem própria. O computador foi a revolução silenciosa (nem tanto assim) embrenhando-se nas nossas vidas de forma cada vez mais insubstituível, mas usando e misturando as técnicas de cinema, rádio e televisão. Com ele, surgiu essa tal de Internet, que subverteu várias coisas e transformou-se na coqueluche do nosso século, misturando tudo e até fazendo as vezes dos velhos "cursos por correspondência". Muita coisa mudou e meu avô se sentiria confuso com alguma delas, mas jamais com uma sala de aula. Ele se sentiria em casa. Não teria o giz, mas ele sabia e saberia se virar.

Assim como as salas de aula físicamente não mudaram, os professores também estão séculos atrás. Aprenderam que consguem dar aula sem agredir físicamente as crianças, descobriram alguns recursos conhecidos dos atores e comediantes, mas no fundo não trazem nada de novo, a não ser apresentar a matéria como fazia o professor dos avós dos nossos avós.

As escolas escondem-se por trás de "parcerias" com as famílias e não mais arvoram pra si o rótulo de "segundo lar". Claro, isso lhes dava mais trabalho. A professora era uma segunda mãe (ou cruel madrasta) mas tinha uma postura e exigia um respeito. Umas com mais sucesso do que outras. Hoje elas estão perdidas. Os colégios disputam alunos dizendo serem os melhores e entopem as salas de aula no limite do que lhes permite a lei. Por mais que o professor não seja capaz de lidar com a diversidade cultural dos alunos e que alguns seriam ótimos professores de apenas 3 ou 4, as salas vão ao limite de 26. Diante dessa turma cheia de energia e disposição para a vida, os que mais padecem são aqueles mais bem dispostos. Ficou fácil agora, chama-los de hiperativos e sugerir acompanhamentos neurológicos, psicológicos, pedagógicos e demagógicos. Acho inaceitável a figura da "explicadora". A velha "professora particular" chamada para um reforço em casos emergenciais, virou um lugar comum. Por que isso? Claro que pela própria incapacidade dos colégios de ensinar.

Se a aula é menos interessante do que um game, o que fazer para torna-la razoavelmente interessante? Me lembro de sentar no colo do meu pai, aos 8 anos de idade, para ouvir uma preleção dele sobre a importância do ensino de história. Eu era (sou) péssimo com decoreba de datas. Jamais me interessei por isso e esse era o método. Datas. Data do descobrimento, data da independencia, datas, datas, datas. Mas e os fatos? Frei Heliodoro que me perdoe, mas as aulas dele eram insuportáveis. Um belo dia, ano novo, sala nova (mas igualzinha a do ano anterior) entra um senhor gordo, grisalho com cara de bonachão. Senta-se na cadeira e puxa a mesa em sua direção. A turma cai na risada e ele sério pergunta o que esperávamos, que ele puxasse a cadeira com risco de dar vexame? Começava um novo tempo da história para todos nós. O professor Henrique Delamare marcou a vida de todos os que passaram por suas aulas. Havia um livro, havia prova (com apenas duas perguntas a serem respondidas em uma página), havia muita conversa e não percebíamos que nessa conversa, ouvíamos histórias. A História do Brasil, a História Universal, D.Pedro, Alexandre O Grande, Napoleão, Sócrates, todos estavam ali e começaram a fazer parte de nossas vidas como pessoas que eram mas que se destacaram. Era uma aula comum com um professor incomum.

Nem todos podem ser um Professor Delamare. Alguns chegam perto, mas a maioria preferia estar fazendo outra coisa. Do mesmo modo, as Modernas Organizações Pedagógicas, poderiam ser outra coisa. Uma padaria, um cinema, uma loja de roupas, muitos colégios são apenas um negócio. Alguns gastam com a contratação de profissionais diversos e cobram por isso. Outros simplesmente não tem. Mas de que adianta ter pedagogos e psicólogos se no fundo o que se visa é a hora extra da reunião?

As escolas hoje falam da perceria porque elas não sabem o que fazer com as crianças. Chamam as famílias para participar, inventam Escola da Família e são mestres em escolher voluntários para fazer o serviço que deveria ser delas. Atribuem às famílias um serviço pelo qual são pagas para fazer. Eu pago a uma pessoa para ensinar meu filho umas tantas coisas. Estou delegando uma responsabilidade a essa pessoa e dando-lhe autonomia. Quando me chamam no colégio para "troca de informações", me contam do comportamento de uma criança que age e reage em um ambiente que não é o seu lar. Me lembro de Miles Davis que gostava de desconcertar seus interlocutores perguntando: "E daí?". Ao final dessas reuniões eu me pergunto: E daí? Acabei de perder, gastar uma ou duas horas do meu tempo para ouvir nada. Me perguntam como ele vai, eu respondo e depois me dizem como ele está e se comporta lá. Contam fantásticas teorias que buscaram aplicar e que me soam como testes feito no meu filho-cobaia. Não recebo soluções. Sugeriram uma fonoaudióloga. Ele está lá. Sugeriram acompanhamento psicológico, ele está lá. Sugeriram avaliação neurológica, ele fez (e não deu nada - o neurologista colocou no laudo que a escola precisa agir como escola). Sugeriram que o pediatra passasse um "calmantinho" para a criança e nós começamos a desconfiar que eles é que precisavam de um "calmantão". Chamam os profissionais na escola como se fosse obrigação dos profissionais que contratamos, prestar contas à escola de alguma coisa, esquecendo até do sigilo profissional. São incapazes de escrever uma carta a ser enviada à psicóloga, ao invés disso a chama para mais uma reunião (paga por mim) e quando ela se recusa, porque já percebeu que as reuniões não levam à nada ("Se você não quer decidir nada, marque uma reunião"- Millor Fernades) dizem que ela não está querendo colaborar. Eles precisam desesperadamente encontrar um bode expiatório para as falhas deles. Se uma família se dispõe a tudo, é algo tão inédito pra eles, que confundem isso com subserviência, imaturidade e ingenuidade. Esquecem que diante deles pode estar um pedagogo, um psicólogo, um humanista, um pesquisador, enfim, qualquer um com muito mais experiência de vida do que eles, ali enclausurados tal e qual as Carmelitas.

Outro dia resolvi sair com meu filho em plena quinta-feira e dar-lhe uma aula na rua. Uma simples ida ao Centro da Cidade, que geralmente levo uma ou duas horas, extendeu-se por cinco horas. Estudamos matemática e sistema monetário ao comprar as passagens do Metro; observou as construções de antigamente em oposição aos novos e modernos edifícios aprendendo sobre métodos construtivos; discutimos nutrição ao nos sentarmos para o almoço; fizemos algumas experiências de orientação por observação do Sol; conversamos sobre desperdício, poluição e higiene apenas caminhando pelas ruas do Centro. Eu aprendi terraplenagem com meu pai, aos nove anos de idade indo com ele aos sábados nas obras que gerenciava. Experiência marcante que me trouxe um conhecimento que não aprendi em lugar nenhum (até porque não fiz engenharia como esperavam) e que ficou ali guardado até a hora de sentar pra primeira aula na Fcauldade de Arquitetura.

O tempo não para. Tudo a nossa evolui e se transforma constantemente. O ser humano mudou e as crianças mudaram. A humanidade continua mudando, mas quando será que a sala de aula vai mudar?
Se alguém souber a resposta, por favor me conte.
Forte Abraço

domingo, 6 de setembro de 2009

eMail pra mãe...

O Henfil diria que é uma carta pra mãe, mas como os tempos são modernos, a mãe daqui tem email e le como se deve. Mandei pra ela o projeto vencedor do Museu da Imagem e do Som lá do Rio de Janeiro e ela me mandou o seguinte:

"Já cheguei a uma conclusão quanto a este projeto. Vai ser uma pena mas, quando o museu estiver pronto não vou conhecê-lo por dentro. Vou olhar lá de fora pois com tanta rampa e escada, uma mulher de mais de 80 não poderá andar subindo e descendo. Duvido que a obra fique pronta em 2 anos e meio. Vão levar um tempão 1º para colocar abaixo a Help, depois para discutir as reformas do projeto americano, e daí... (Remember Metrô!) Poxa não falaram em elevador! Procurei nas gravuras, ele não aparece. Podiam botar um panorâmico para os velhinhos. O projeto vai ser mesmo "implantado" em Copacabana. Querem modernisá-la na marra! Esquecem que o bairro tá entrando em franca decadência paisagística e turística. Não citando a população dela que tb mudou de classe. Sobra o desenho das calçadas. Pode um bairro e uma cidade sobreviver por causa de suas calçadas? Ha, tem a praia e sua paisagem! Será?"
Minha resposta.:
Ok
[modo arquiteto ligado]
Deixando a ética de lado, eu acho que esse projeto nada tem a ver com o Rio de Janeiro, com o Museu da Imagem e do Som ou com qualquer outra coisa. Padece da síndrome do Internacionalismo, movimento de muitas décadas atrás e do qual herdamos o caixotes de concreto e vidro (ou aço e vidro nos EUA).
Acredito que quando ficar pronto, seja elogiado e que tenha bons espaços interiores. Discordo entretanto do que foi feito em sua fachada externa. Mais uma vez, os arquitetos esquecem do entorno. Esquecem que já havia algo antes. INTEGRAÇÃO é a palavra chave. Infelizmente, os dirigentes, prefeitos e assemelhados, adoram deixar a sua marca... a qualquer custo. A população paga e eles, a exemplo do Cesar Maia, enchem os bolsos e constroem algo sem futuro. Haja visto a recentemente demolida passarela do Bar 20 que ligava nada a nenhum lugar e que levava ninguém pra lugar nenhum. O obelisco ainda está lá, mas espero que por pouco tempo. Nada mais perigoso para o transito do que um obstáculo daquele.
Mas voltando ao museu, concordo que havia necessidade de um novo espaço, para o MIS, mas não foi a melhor escolha. A melhor, seria a que propusesse uma melhor integração entre o museu e a rua. Havia um projeto em que a fachada servia como tela para projeções, usando as areias como platéia. Esse é o espírito.Não sei se é esse projeto aqui debaixo, mas havia um com um auditório na cobertura para projeção de filmes. E os vizinhos? Será que o cara não pensou que nem todos poderiam querer ouvir e ver (já que a luminosidade da tela poderia afetar os vizinhos)?
Concordo que tudo vai ser demorado, mas o projeto prevê escadas rolantes e não só rampas. Tenho que concordar que são melhor opção do que as escadas tradicionais e os elevadores, já que permitem um passeio real pelo museu. Acredito que os elevadores existam e apenas não tenham aparecido nas plantas e cortes mostradas.
Tenho a lamentar que a organicidade tenha sido abandonada há muito. A arquitetura orgância de Frank Loyd Wright não foi só esquecida, mas posta de lado em troca de projetos monumentalistas e que servem como amplificador do ego dos administradores e do próprio criador. Por sorte nossa, aquele ridículo projeto de museu para o cais do porto não foi à frente. Seria outro estrupício. Um paredão de concreto bloqueando a vista do mar. Esse é o conceito do infeliz (pelo menos para esse projeto) arquiteto Jean.
Sei não, tem horas que eu me lembro do meu professor Paulo Pena Firme, que dizia que os arquitetos deviam usar um uniforme, como os militares, os padres e os médicos, tal a importância da nossa profissão.Ela é capaz de afetar a vida de milhões de pessoas... ou de só uma família, que influenciará crianças, que crescerão, terão suas famílias e... é muito pocer para um homem só.[modo arquiteto OFF]
Carácoles, na hora de gastar dinheiro os prefeitos não medem esforços, mas só se for pra promove-los com alguma hora grandiosa, majestosa e "significativa". Quero ver eles limparem o rio que passa aqui perto de casa! Isso eles não fazem. E o canal do Jardim de Alah? Alguém já deu um jeito naquilo? Não, querem fazer uma obra gigantesca, maravilhosa, retumbande... maldito hino que nos une, se fosse menos megalomaníaco talvez fossemos menos "argentinos".
bjsx

sábado, 30 de maio de 2009

Resposta à carta do Luciano Pires (2)

Essa questão da "dureza" da Dilma é realmente um assunto que deveria ser melhor discutido.
Mas eu estenderia a discussão, apenas usando a Dilma como ponto de partida, para todas as mulheres que no mercado de trabalho querem passar a imagem de duronas, de poderosas, de infalíveis, etc, etc, etc (3 etc mesmo).

A meu ver isso aconteceu por caírem na esparrela da "libertação feminina" dos anos 60.
As mulheres não ficaram "livres" a partir de então. As mulheres vinham conquistando espaço como pessoas (que são) lentamente, em uma virada de atitude da sociedade a partir da segunda guerra. "Conquistaram" postos de trabalho típicamente masculinos no tal do esforço guerra. Daí pra frente o movimento só fez crescer, até queimarem sutiãs em praça pública (minha esposa diz que fizeram isso pra poder comprar modelos novos). Desde então elas sabiam e provaram que eram capazes de trabalharem e de chefiarem, mas aí, o que aconteceu?

Ao invés das mulheres liderarem usando sua feminilidade, não, optaram por chefiar usando o modelo masculino. Colocaram calças, terninhos e se comportavam como homens. Estou sendo machista, mas não por usarem calças, mas por se comportarem da maneira errada que a maioria dos homens se comporta.

Qual foi a atitude de Tancredo quando esteve doente? Preciso repetir? Acho que não.
Steve Jobs (da Apple) está licenciado porque está tratando um cancer. Está errado?
Tancredo foi "macho", Steve está sendo "feminino".
Tancredo errou. Steve está certo.

O que é mais importante agora, os compromissos ou a saúde?

As pessoas tem a necessidade de passar a imagem de que são fortes, de que nada as atinge. Falam dos erros sempre no passado. "Só há prícipes por aqui?" perguntaria Fernando Pessoa no Poema em Linha Reta.

Parece que todos são perfeitos e só eu sou o imperfeito? Todos são fantásticos em tudo o que fazem e só eu sou "razoável"? Sempre todos tiveram forças para superar os obstáculos mais difíceies e só eu quase desisti?

Lamento dizer mas agora são eles (ou vocês?) que estão errados.

No momento da doença é hora de parar e refletir.

Dilma quer ser candidata a presidente. Tudo bem. Ambição é como água benta (diria minha avó) "cada um toma quanto aguenta", mas posar de forte, de imbatível, de super... tem algo errado aí. Se até então ela até tinha minha simpatia, agora só posso lamentar que ela esteja se sujeitando ao seu total abandono. As pessoas não sabem mais o que é refletir. Acham que é o que acontece quando ficam em frente a um espelho, esquecendo que é bem parecido com meditar.
Dilma deveria refletir sobre sua atual situação e não dar ouvidos ao amigo barbudo que pouco pensa antes de falar e que duvido, reflita sobre seus atos da maneira como se deve.

O mundo está muito sem noção e as mulheres, que sempre moldaram o mundo com suas posições - fossem quais fossem - influenciando as novas gerações que tinham o privilégio de serem educadas por elas, agora abandonam tudo por um momento fugaz. Cinco anos de mandato acabam logo. A vida como foi vivida fica para sempre.

Forte abraço

Esse texto é em homenagem às grandes mulheres que inflenciaram muitas gerações e já não estão entre nós: Ophelia Puccio, Myrian Saba e Ana Violeta Durão. Minha bisavó e minhas avós, respectivamente.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Luciano Pires - O Compromisso

O COMPROMISSO

Quando eu era criança meu pai sempre me incomodava com um maroto dilema ético. Ele perguntava se eu preferia ser um herói morto ou um
covarde vivo. E eu, voluntarioso, respondia:
- Herói morto!
Lembrei dessa história quando vi a foto de Dilma Roussef segurando a peruca que o vento estava levando, lá na base aérea de Brasília.
Peruca? É. A candidata tem um câncer e está fazendo quimioterapia, que derruba os cabelos. Raspou a cabeça e agora anda de peruca. Uns
fingem que não vêem, outros vêem e ficam constrangidos e alguns fotografam. Uns publicam e não dizem nada. Outros publicam e dizem de forma
oblíqua. E há também os que publicam e dizem.
Se quem diz é do partido dela ou da base de apoio, tudo bem. Mas se quem diz é da oposição...
E eu não sei o que dizer. Estou perplexo.
A mulher está com câncer, pô! Cân-cer! Sabe o que é isso? Câncer é uma doença terrível. É uma neoplasia, o crescimento anormal e sem
controle das células.
Mesmo com todo avanço da medicina, o câncer ainda mata. E muito. E quem está em tratamento tem que ficar em resguardo, descansando. E se
está fazendo quimioterapia, então, é resguardo duplo. Triplo. A quimioterapia derruba as defesas naturais e qualquer resfriadinho pode virar
uma pneumonia mortal. Câncer mata.

A vida toda ouvi a palavra "câncer" com um misto de mistério e medo. Afinal, uma afirmação como "fulano está com câncer" nunca foi uma
constatação. Sempre foi uma condenação. O peso dessa palavra é imenso, só atenuado quando lembramos que em outros países lusófonos o nome é
"cancro". Mas deixando as questões semânticas pra lá, câncer ou cancro matam!
Então o que é que essa mulher está fazendo no evento, na inauguração, na reunião? Que força a leva a abandonar o resguardo? Será uma
grandeza de alma? Vocação para o sacrifício? Sede de poder? Talvez insistência dos colegas de partido e dos marqueteiros? Ou uma doentia
necessidade de cumprir compromissos? Quem sabe a perspectiva de vencer mais uma batalha? Vencendo, a guerreira fica ainda mais forte?

A ministra assumiu um compromisso com o partido, com o presidente e com o Brasil. Um compromisso importante, de trabalhar para garantir a
sucessão de Lula e a continuidade do projeto político do PT. É um compromisso sério, a ponto de levá-la a mudar de comportamento, modo de
vestir e até de rosto. Mas tem que haver um limite.

Então faço aqui um apelo. Presidente, por favor, manda a Dilma pra casa. Manda que ela fique lá, quietinha, nanando, tomando um chazinho e
vencendo a doença. Todo mundo vai entender e apoiar sua atitude. Presidente, se o senhor não mandar a ministra pra casa e a coisa se
complicar a culpa será sua! Sei que a ministra é durona, mas se ela teimar peça para alguém da família - a filha, quem sabe? - chamá-la e
repetir a frase inesquecível de Roberto Jefferson:

- Sai daí Dilma. Sai daí logo, antes que você faça réu um homem inocente, o presidente Lula!

E agora é pra Ministra: Dona Dilma, faça uma reflexão. Seu compromisso é importante, mas não justifica que sua saúde seja usada como mais um
componente da equação política. Nenhum compromisso é mais urgente que tratar aquilo que pode matar a senhora. Recolher-se neste momento não
é covardia. É um ato de amor próprio do qual a senhora sairá como covarde viva apenas para quem a está usando.
Para os outros, será uma heroína viva..

Primeiro a vida, ministra. Depois a política.

Luciano Pires
www.lucianopires.com.br

domingo, 24 de maio de 2009

Zé Rodrix (RIP)

"O corpo do cantor Zé Rodrix foi cremado no início da tarde deste sábado (23) no Cemitério da Vila Alpina, na Zona Leste de São Paulo. O compositor de "Casa no campo" (sucesso de Elis Regina) morreu na noite desta quinta-feira (21), na capital paulista, devido a um infarto agudo no miocárdio."

Não conheci o Zé Rodrix, mas estive com ele algumas vezes. Nada me credencia pra falar sobre ele como pessoa. Também não sei falar sobre o artista, porque como falei pra ele, está tudo muito mais no subconsciente do que no próprio consciente.

Uma semana antes dele passar pro outro lado, trocamos emails. Não sabia que seriam os últimos e nossa expectativas era de que seriam como uma volta. E foram. Voltamos ao começo. Ele e eu, de maneiras completamente diferentes e nada como os planos que traçávamos.

Não vou filosofar nem enveredar por caminhos que o meu amigo Lázaro navega tão bem. Posso falar apenas daquilo que sinto no coração. Estive com o Zé e com um grande amigo dele (agora estão juntos) o Tico Terpins em uma ida minha a SP. Foi um encontro intenso e nada tenso. Eles eram figuras muito fortes. Isso me marcou. Gostava daquelas "bobagens" que ele cantava com cara de inconsequente, fazendo tipo no programa do Chacrinha. Entendia as entrelinhas, mas não conhecia o Zé.

Nunca sentei com ele numa mesa de bar pra falar sobre qualquer coisa, menos música e ocultismo, ou sentei na sala dele pra falar sobre os musicismos e música. Não conheci o Zé, mas sentei no estúdio dele (com o Tico) pra conversar sobre música e aprendi algumas coisas. Não conheci o Zé, mas as coisas que aprendi ali, foram usadas e transformadas, como todo bom aluno deve fazer, e utilizadas como base de coisas que me acompanham até hoje.

Não conheci o Zé, mas trocava emails regularmente com ele, a ponto dele ter uma pasta especial no meu servidor de email, como faço com os amigos que conheço. Falávamos sobre coisas que não faziam o menor sentido, ou não. Parecia papo de buteco, como falei no derradeiro email, que não sabia ser o último.

Não conhecia o Zé, mas conhecia parte de seu som, parte de sua música e parte do que ele me deixava ver. Mesmo juntando as partes e achando algo maior que o todo... eu não conhecia o Zé.

Fico feliz que ele tenha ido como foi. Não era como pensavam que ele iria. Saiu com calma, do meio da família, num dia comum como uma pessoa comum.
No final, será que alguém conhecia o Zé?

Com certeza eu não o conhecia, mas terei saudades desse putinildo.


Mais informações no site do Globo:

segunda-feira, 9 de março de 2009

Resposta à carta do Luciano Pires

Para ler a carta, você pode ir ao site dele aqui ou na postagem anterior a esta. Se já fez isso, pronto ou não aqui vou eu!

Falou "arquiteto" (com ou sem aspas)... me chamou. :-)

Faz muito tempo que esse país matou os "arquitetos". Alguns anos atrás, comentei sobre o texto de um amigo "Morte aos Arquitetos", que eles precisavam descer dos seus pedestais e parar de tentar valorizar a profissão, porque havia apenas uma valorização do próprio ego. Tratávamos ali de arquitetos (sem aspas). Aqui no teu texto, a constatação de que há muitos anos eles (com aspas) já foram mortos.Há quantos anos atrás o BNH acabou? (novembro de 1986 pra quem não foi dessa época)

O que o governo Lula está propondo agora? (criar novamente o BNH).
"Porque acabou" já não cabe mais em discussão, mas o que aconteceu com o fim dele está claro. A população cresceu e as cidades incharam, sem política alguma de criar residências para os que necessitam. Residências implicam em saneamento básico, algo inexistente em muitas comunidades, como gostam de chamar as favelas.

No meio do esgoto e sem saúde, a população que só faz crescer, sequer é inserida no mercado de trabalho, ficando à margem e como tal, marginais, capazes de atos obtusos.

Pior do que uma manada, são várias delas e, uma dentro da outra. A manada X contra a manda Y. A manada externa contra a manada interna. Aonde iremos chegar é conversa pra antropologistas.

Mas será que as manadas tem líders? Se a manada está subdividida, posso crer que alguns dos pequenos grupos tenham líderes, mas quanto maior ele se torna, mais distante fica do líder original e este mais distante do todo e por mais que se auto-intitule como líder, sua liderança não só é contestada, mas realmente ignorada, no melhor sentido da palavra, aquele que subtrai o conhecimento.

O que é uma manda sem líder (se é que existe tal coisa no reino animal)?
Retornamos ao exemplo do Luciano: "raciocinar mal com dados falsos".
Nossa capacidade de raciocínio está cada vez mais prejudicada. E um exemplo são as Wiki. Eu conheço o Luciano Pires há algum tempo e de certa forma sei o que esperar dele, incluindo aí o inesperado, mas não conheço o John Doe. Devo acreditar em uma informação que ele forneça? Devo acreditar que ele é capaz de discernir sobre alguma coisa que eu mesmo não conheça? Enfim, posso confiar em John Doe?

Cada vez mais querem nos fazer crer que estar "publicado" na internet já é suficiente para que seja verdade.
Cada vez mais, alguns animais da nossa manada nos querem fazer crer que aquilo é inteligência.
Cada vez mais nos querem fazer crer que eles são mais inteligentes do que nós.

Mas como eles querem fazer isso se simplesmente não nos conhecem?
Porque assim é na manada. Olhar em volta e não se identificar com o que vê, reforça o sentimento de não sermos tão burros quanto a soma de todos nós.

Certa vez fui apresentado a um novo chefe. Depois do discurso habitual, permitiram que fizéssemos perguntas. Levantei meu braço e perguntei: "Quem é você para ser nosso chefe?" Tentei fazer com que a pergunta soasse o menos agressiva possível, mas jamais imaginaria que não fosse respondida. Ele não sabia responder. Porque a inversão da pergunta: "Porque devo contratar você?" soa tão agressiva? Os líderes não estão acostumados a serem questionados. Eles são alçados ao poder, perdão, alçados ao cargo para executar uma estratégia sem objetivos, como se houvesse um poder divino a guiar o líder máximo. E chegamos ao final da estrada de tijolos dourados e ao próprio Mágico de Oz. Não há líder divino e o superior responde ao superior que responde (muitas vezes) a um anão da câmara, a alguém do chamado baixo clero, a um corrupto, a um ladrão... esses são nossos líderes?

sexta-feira, 6 de março de 2009

A Carta do Luciano Pires (1)

Esse foi o conteúdo do que ele me enviou em 06/março. Você pode encontar a versão original no site dele: http://www.lucianopires.com.br/idealbb/view.asp?topicID=10515&pageNo=1&num=

[abre aspas]
"Othon Moacyr Garcia foi um filólogo, lingüista, ensaísta e crítico literário brasileiro. Em um de seus trabalhos escreveu que "ainda que cometamos um número infinito de erros, só há, na verdade, do ponto de vista lógico duas maneiras de errar: erramos raciocinando mal com dados corretos ou raciocinando bem com dados falsos.”Vivemos numa sociedade em que a maior fonte de informação é a mídia que apresenta os dados superficialmente, conforme seus interesses. Fiar-se numa fonte assim é um risco.

Por outro lado a capacidade intelectual da sociedade tem sido reduzida num processo de emburrecimento infinito. Vivemos cada vez mais numa manada, copiando as decisões que o bovino ao lado tomou.

Surge então uma terceira maneira na equação de Othon Garcia: raciocinar mal com dados falsos...

Dentro da manada fazemos perguntas erradas, recebemos respostas erradas, realizamos diagnósticos errados e tomamos as ações erradas. Some-se a isso um altíssimo grau de cagaço e pronto! Olhe em volta!Um amigo foi comprar um automóvel. Um Ford KA. Na concessionária, a informação: 45 dias para entrega. Não tem carro em estoque...

A Volkswagen, que no fim de 2008 cancelou o pagamento de horas-extras e concedeu férias coletivas escalonadas para seus 22 mil empregados, vai convocar sete mil funcionários para turno extra de trabalho no final de semana. Ela precisa adequar o volume de produção à demanda, que cresceu rapidamente. A situação nas demais montadoras não é diferente: ou você se adapta ao que tem na concessionária ou espera até sessenta dias.

Enquanto isso o segmento de carros importados ri à toa: saltou de 13,2% de participação de mercado em novembro para quase 20% em janeiro.

Se tudo andar mal com a indústria automotiva brasileira, voltaremos em 2009 aos patamares de 2007... Que foi simplesmente o segundo melhor ano da história dessa indústria no Brasil.

Que raio de crise é essa?
É a crise do pensamento estratégico, que morreu. Só restou o tático. Típico de manadas.

Deixe-me esclarecer com um exemplo simples: um arquiteto desenha um prédio maluco. É preciso que um engenheiro faça os cálculos estruturais para o prédio ficar em pé. E então os pedreiros erguem o edifício conforme os planos.

A visão (objetivo) do arquiteto é sustentada pela técnica (estratégia) do engenheiro que é tornada realidade pela execução (tática) dos pedreiros. Estratégia sem objetivo é desperdício. Execução sem estratégia é um desastre. O muro ficará torto e o prédio vai cair. E, se não cair, provavelmente terá custado infinitamente mais do que se seguisse uma estratégia.

A miséria intelectual, a asinidade estratégica e a vida em manada acabaram com os “arquitetos” na virada do milênio. E agora o cenário de crise está acabando com os “engenheiros”. Só restam “mestres de obra” e “pedreiros”. Atenção para as aspas, por favor.

Decisões? Só para curto prazo, para coisas que podem ser medidas e vistas. E dá-lhe simplismo. Tem que reduzir custo? Mande o povo embora. Corte os investimentos em comunicação. Transfira o poder para o departamento de compras, que vai escolher o mais baratinho. Deixe o dinheiro no banco que é mais seguro...Infelizmente ninguém jamais medirá o custo dessas decisões. Eles não cabem numa planilha. E se coubessem a manada não entenderia.

Pois alguém já disse que “nenhum de nós é tão burro quanto a soma de todos nós.”

Nunca na história deste país vi uma verdade mais absoluta.
Luciano Pires "
[fecha aspas]

Aguardem a "resposta".