domingo, 6 de setembro de 2009

eMail pra mãe...

O Henfil diria que é uma carta pra mãe, mas como os tempos são modernos, a mãe daqui tem email e le como se deve. Mandei pra ela o projeto vencedor do Museu da Imagem e do Som lá do Rio de Janeiro e ela me mandou o seguinte:

"Já cheguei a uma conclusão quanto a este projeto. Vai ser uma pena mas, quando o museu estiver pronto não vou conhecê-lo por dentro. Vou olhar lá de fora pois com tanta rampa e escada, uma mulher de mais de 80 não poderá andar subindo e descendo. Duvido que a obra fique pronta em 2 anos e meio. Vão levar um tempão 1º para colocar abaixo a Help, depois para discutir as reformas do projeto americano, e daí... (Remember Metrô!) Poxa não falaram em elevador! Procurei nas gravuras, ele não aparece. Podiam botar um panorâmico para os velhinhos. O projeto vai ser mesmo "implantado" em Copacabana. Querem modernisá-la na marra! Esquecem que o bairro tá entrando em franca decadência paisagística e turística. Não citando a população dela que tb mudou de classe. Sobra o desenho das calçadas. Pode um bairro e uma cidade sobreviver por causa de suas calçadas? Ha, tem a praia e sua paisagem! Será?"
Minha resposta.:
Ok
[modo arquiteto ligado]
Deixando a ética de lado, eu acho que esse projeto nada tem a ver com o Rio de Janeiro, com o Museu da Imagem e do Som ou com qualquer outra coisa. Padece da síndrome do Internacionalismo, movimento de muitas décadas atrás e do qual herdamos o caixotes de concreto e vidro (ou aço e vidro nos EUA).
Acredito que quando ficar pronto, seja elogiado e que tenha bons espaços interiores. Discordo entretanto do que foi feito em sua fachada externa. Mais uma vez, os arquitetos esquecem do entorno. Esquecem que já havia algo antes. INTEGRAÇÃO é a palavra chave. Infelizmente, os dirigentes, prefeitos e assemelhados, adoram deixar a sua marca... a qualquer custo. A população paga e eles, a exemplo do Cesar Maia, enchem os bolsos e constroem algo sem futuro. Haja visto a recentemente demolida passarela do Bar 20 que ligava nada a nenhum lugar e que levava ninguém pra lugar nenhum. O obelisco ainda está lá, mas espero que por pouco tempo. Nada mais perigoso para o transito do que um obstáculo daquele.
Mas voltando ao museu, concordo que havia necessidade de um novo espaço, para o MIS, mas não foi a melhor escolha. A melhor, seria a que propusesse uma melhor integração entre o museu e a rua. Havia um projeto em que a fachada servia como tela para projeções, usando as areias como platéia. Esse é o espírito.Não sei se é esse projeto aqui debaixo, mas havia um com um auditório na cobertura para projeção de filmes. E os vizinhos? Será que o cara não pensou que nem todos poderiam querer ouvir e ver (já que a luminosidade da tela poderia afetar os vizinhos)?
Concordo que tudo vai ser demorado, mas o projeto prevê escadas rolantes e não só rampas. Tenho que concordar que são melhor opção do que as escadas tradicionais e os elevadores, já que permitem um passeio real pelo museu. Acredito que os elevadores existam e apenas não tenham aparecido nas plantas e cortes mostradas.
Tenho a lamentar que a organicidade tenha sido abandonada há muito. A arquitetura orgância de Frank Loyd Wright não foi só esquecida, mas posta de lado em troca de projetos monumentalistas e que servem como amplificador do ego dos administradores e do próprio criador. Por sorte nossa, aquele ridículo projeto de museu para o cais do porto não foi à frente. Seria outro estrupício. Um paredão de concreto bloqueando a vista do mar. Esse é o conceito do infeliz (pelo menos para esse projeto) arquiteto Jean.
Sei não, tem horas que eu me lembro do meu professor Paulo Pena Firme, que dizia que os arquitetos deviam usar um uniforme, como os militares, os padres e os médicos, tal a importância da nossa profissão.Ela é capaz de afetar a vida de milhões de pessoas... ou de só uma família, que influenciará crianças, que crescerão, terão suas famílias e... é muito pocer para um homem só.[modo arquiteto OFF]
Carácoles, na hora de gastar dinheiro os prefeitos não medem esforços, mas só se for pra promove-los com alguma hora grandiosa, majestosa e "significativa". Quero ver eles limparem o rio que passa aqui perto de casa! Isso eles não fazem. E o canal do Jardim de Alah? Alguém já deu um jeito naquilo? Não, querem fazer uma obra gigantesca, maravilhosa, retumbande... maldito hino que nos une, se fosse menos megalomaníaco talvez fossemos menos "argentinos".
bjsx

Um comentário:

  1. Alex, ou a mãe.
    Recebi seus comentários, em parte corretíssimos, por email, por uma amiga Arquiteta, o que também sou e da idade da sua mãe (com todo respeito, pois a expressãuo sua mãe soa ofensivo à maioria dos ouvidos desprecavidos...); portanto, apenas para animar os comentários feitos, gostaria de lembrar o que disse, com muita razão, o citado Frank Lloyd Wright, em razão de críticas no New York Times, sobre o seu Museu Guggenheim (o autêntico), de New York, e o entorno :
    "O museu nada tem a ver com o entorno..."
    - O entorno é que nada tem a ver com o meu Museu, retrucou o arquiteto.
    E é a pura verdade; se o entorno é ruim, não há porque nivelar por baixo, hoje pelo mal de ontem. O novo prédio funciona, também, como um alerta, um grito, uma tomada de posição; há sempre que reagir ao mal feito.
    Abraço, desculpe-me vir sem ser chamado e um convite a visitar www.jbgoldemberg.blogspot.com

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