Você está preparado para morrer? Você já pensou que vai morrer? Duvido. Eu achava que já havia pensado nessas coisas, mas nunca havia ficado cara a cara com a Dona Foice. Até outro dia.
Interessante como uma coisa tão certa na nossa vida seja tão negligenciada. As pessoas agem como se fossem eternas. Pelo menos eu tive alguns chefes que se julgavam eternos... até o próximo puxa saco assumir. Tive chefes onicientes, onipresentes, onipotentes. Todos achando que seu cargo era eterno. Imagine o que eles achavam da vida. Se eternos no cargo, e não há nada mais transitório do que isso, eternos na vida. Claro.
Esse era então o motivo para deixarem para acompanhar o dever de casa do filho amanhã, ou depois. Como a vida pra eles seria eterna, podiam dizer amanhã que amavam aquela (ou aquele) que estava por trás de tudo. Podiam deixar pra amanhã o agradecer ao porteiro, ao cozinheiro, ao ascensorista, ao manobrista ou ao barbeiro.
Essas pessoas não se achavam acima do bem e do mal. Elas eram o bem e o mal. Elas não tinham sucesso. Elas eram o sucesso. Como a criança que nunca usa a roupa do Batman, ela é o Batman. Qual a semelhança? A infância. Ambos estão na tenra idade. A diferença é que as crianças ainda estão puras, não conseguiram assimilar totalmente a derrota que a sociedade quer lhes impor. No fundo não é nada mais do que isso. Retiramos os brinquedos delas, seus sonhos e seus ideais. O que sobra acaba se tornando ressentido e muitas vezes pervertido. Busca a vingança contra o pai que nunca olhava ou contra a mãe, sempre com a última palavra. Junte-se a isso uma sociedade competitiva que diz que você é o que você tem e vemos a origem de vários problemas.
As pessoas buscam eternizar-se no seu trabalho. Depois na família. Mas de qualquer maneira que tentem, esquecem que vão morrer. E não se preparam pra isso. Não sabem por onde começar. A única coisa certa na vida não é ensinada as crianças. O que vai acontecer com todas as pessoas, mais dia menos dia, é assunto proibido, como se morrer fosse algo do mau.
Morrer é simplesmente deixar algumas coisas pra trás. Passamos a vida deixando coisas pra trás, mas não devemos deixar pendências. Simplesmente não carregue além do necessário. Leve sempre o mínimo. Quando for a sua hora de morrer, você levará ainda menos coisas.
Lave a louça, guarde as meias, tire o jornal do chão. Com essas pequenas coisas você vai aos poucos se habituando a não deixar para amanhã. Vai acabando com as pendências. Acabarão as âncoras que te prendem. Aproveite esses momentos para estar ali. Não pense em outra coisa. Faça seu momento de meditação também nas pequenas coisas.
Não rotule, não pense. Haja.
Silencie a mente e veja o resultado.
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