segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O clima de meditação: a flor do amor

Pergunta a Osho:

O que significa amar a si mesmo?
Uma pessoa tem de começar não amando a si mesma... porque você não sabe quem você é. Quem você vai amar? Se começar a amar a si mesmo, você amará apenas o seu ego, que não é o seu eu, que é a sua personalidade falsa.

E quase todos amam sua personalidade, todos amam seu ego. Mesmo a mulher mais feia, se você lhe disser: "Como você é linda", não se recusará a aceitar isso.

Ouvi contar: dois velhos se encontraram numa esquina. "Onde você esteve nestes dois últimos meses?" "Na prisão", responde o segundo homem. "Na prisão? Como é possível?", diz o primeiro homem. O segundo responde: "Bem, há dois meses eu estava parado numa esquina e uma linda garota apareceu correndo com um policial e disse: 'Ele é o homem, oficial. Foi ele que me atacou'. E você sabe, eu me senti tão lisonjeado que admiti isso".

sábado, 29 de outubro de 2011

O mestre e o escorpião

Um mestre do Oriente viu quando um escorpião estava se afogando e decidiu tirá-lo da água, mas quando o fez, o escorpião o picou.
Pela reação de dor, o mestre o soltou e o animal caiu de novo na água se afogando.
O mestre foi tirá-lo novamente e outra vez o animal o picou.
Um discípulo o observava se aproximou e lhe disse:
-Desculpe-me mas você é teimoso! Não entende que todas as vezes que tentar tirá-lo da água ele irá picá-lo?
O mestre respondeu:
-A natureza do escorpião é picar, e isto não vai mudar a minha, que é ajudar.
Então, com a ajuda de uma folha, tirou o escorpião da água e continuou:
-Não mude sua natureza se alguém lhe faz algum mal; apenas tome precauções. Alguns perseguem a felicidade, outros a criam. Quando a vida lhe apresentar mil razões para chorar, mostre-lhe que tem mil e uma razões para sorrir. Preocupe-se mais com sua consciência do que com sua reputação. Porque sua consciência é o que você é, e sua reputação é o que os outros pensam de você.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Essa civilização: uma farsa

Pergunta a Osho:

Amado Osho, o que você pensa em relação à civilização? Você é totalmente contra ela?
Mas como eu poderia ser contra a civilização se ela não existe em lugar algum? Civilização não existe. Existe apenas uma pretensão. Sim, o homem perdeu sua primitiva, primordial inocência, mas ele não se tornou civilizado, porque não existe uma maneira de tornar-se civilizado.

A única forma de tornar-se civilizado é estar embasado em sua inocência, estar embasado em sua primitiva inocência, crescer a partir daí. É por isso que Jesus diz: "A não ser que você renasça, a não ser que você se torne uma criança outra vez, você nunca saberá o que é a verdade".

Essa assim chamada civilização é uma farsa, é uma moeda falsa. Se eu sou contra ela eu não estou sendo contra a civilização porque isso não é civilização. Eu sou contra ela porque ela não é de forma alguma civilização, ela é uma farsa.

Eu ouvi contar:
Uma vez alguém perguntou ao ex-príncipe de Gales: "Qual a sua ideia sobre a civilização?"
"É uma ideia muito boa", replicou ele. "Alguém deve dar início a ela imediatamente".

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Pronto para a morte?

Você está preparado para morrer? Você já pensou que vai morrer? Duvido. Eu achava que já havia pensado nessas coisas, mas nunca havia ficado cara a cara com a Dona Foice. Até outro dia.

Interessante como uma coisa tão certa na nossa vida seja tão negligenciada. As pessoas agem como se fossem eternas. Pelo menos eu tive alguns chefes que se julgavam eternos... até o próximo puxa saco assumir. Tive chefes onicientes, onipresentes, onipotentes. Todos achando que seu cargo era eterno. Imagine o que eles achavam da vida. Se eternos no cargo, e não há nada mais transitório do que isso, eternos na vida. Claro.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Seja decisivo

Disseram a Osho:
Estou apaixonada por outro homem, no Canadá, e estou num conflito porque também me sinto muito apaixonada pelo meu marido.
Isso simplesmente quer dizer que você ainda quer que algum tipo de conflito e discórdia continue. Isso pode não ser amor por outro homem; isso pode ser apenas amor pelo conflito. Amamos os conflitos porque, com eles, nos sentimos poderosos.

Quando tudo está indo bem, a gente sente como se nada estivesse acontecendo. A gente sente como se a vida fosse vazia. Se a vida está realmente harmoniosa, nos sentimos vazios...nenhuma excitação, nenhum pontapé, nenhuma emoção.

Assim, as pessoas dizem que elas gostariam de uma vida bem pacífica, mas ninguém realmente deseja isso - do contrário, ninguém está criando qualquer barreira. Assim elas prosseguem falando sobre isso e continuam buscando por uma vida pacífica – e continuam criando perturbações. Então fique atenta, cuidado. Se você ama seu marido, não há nenhuma necessidade de outro homem.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O espaço sem julgamento e sem história

O texto que publiquei semana passada, com uma breve provocação sobre as abordagens psicanalítica e mística do que lidamos como sendo “nossos problemas”, trouxe-me muitas mensagens. Todas de pessoas que embarcaram de coração no que diziam Bhagavan e Osho e deixaram-se ir bastante fundo na vivência/percepção desta que é uma chave essencial do crescimento e da libertação: entender a “natureza dos problemas”; conhecer os mecanismos de nossos bloqueios, dores, cargas, prazeres;  perceber as estórias que contamos e com as quais criamos “a nossa história”; e, eventualmente, nos desidentificarmos dessa coisa toda até assentar o Ser em Pura Consciência, Presença.

Achei interessante trazer um pouco mais sobre o mesmo tema.

Vejam o que diz Anand Veeresh, bastante conhecido no Brasil, criador da Meditação AUM:

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Diário da Maldade do Mundo

"Um amigo me enviou um link sobre tortura de crianças palestinas por agentes israelenses.

De um link para outro para outro, passei por americanos contaminando gualtemaltecos com sífiles e gonorréia para estudos e cheguei nos bastidores da tortura no Brasil. Poderia ter ido dormir sem entrar em contato com tanta maldade.

Não há lados.
O problema é que não há lados.
O lado de lá do lado de lá é meu próprio lado.

Quando se lê que judeus torturam crianças pelestinas, que americanos fizeram experiências médicas ilegais, que civis brasileiros auxiliaram e acobertaram a tortura de um estado de exceção, você pode assumir algumas dentre diversas posturas:

Você pode se dizer que não quer saber. É covarde, é canalha, mas devo confessar que é meu primeiro sentimento. Eu não preciso ler o Diário da Maldade Humana, ou, se devo lê-lo, para não parecer canalha e covarde, que venha em forma de literatura, de pintura, de Arte.

Você pode simplificar: quem são eles para falar se também o fazem. Ou, pior ainda, justificar: eles o fazem, porque a eles é feito. O que é verdade, claro, mas é uma verdade infinita, cada iniquidade apagando (apagando?!?) outra iniquidade. Por isso a prevalência do ódio, porque é justificado em outro ódio, até que ao fim não há mais nenhum lado errado.Ou você pode saber - os porcos somos nós. Mas atenção, Denise: isto também é uma fuga, um esconder-se. O certo seria: a porca sou eu.

Se todos os lados podem cometer atrocidades, independentemente da ideologia que apregoam, é que o ser humano, cada um deles, é capaz de cometer atrocidades.

"Basta ter experimentado uma vez que é possível ser cego em plena luz e ver no escuro, para levantar a questão da visão. [...] Sim, o olhar percebe mas não escruta, acredita mas não questiona, recebe mas não procura - vazio de desejo, sem fome nem cruzada. [....] E me pergunto se eu mesma vejo bem." (Muriel Barbery, in "A Elegância do Ouriço")."

Uma belíssima personagem, de imensa coragem intelectual e de espiritualidade compassiva íntegra - ao ser esnobada, apagada pelo olhar do outro, ela se pergunta se ela mesma vê bem. Porque o outro sou eu.

O mundo só vai mudar quando eu mudar. Quando for capaz de rejeitar a ação, acolhendo o agente.

Eu só serei capaz de modificar a maldade do mundo quando souber que o ser humano que a produz é minha própria lata de lixo.

É por isso que eu preferiria não saber. Porque sou obrigada a saber que eu, palestina ou judia, estaria impotente, ou impotentemente jogando pedras, ou impotentemente cumprindo a lei, mesmo que, pessoalmente, preze a vidraça ou a infância do outro. Eu, caseira de sítio, receberia os soldados, e teria até um certo orgulho de me gabar na birosca "eram vinte, eram 200, eram 2mil, e deram tiros para todos os lados", até que um dia eu, caseira, talvez me acovardasse ou me envergonhasse ou me sentisse tolhida por um senso deturpado de lealdade aos meus amigos influentes... e não pudesse dizer: "eles matam, eles torturam, eles maculam minhas árvores e meus lagos, minha paisagem pacífica serve à degradação do homem pelo homem, nem sei qual mais degradado."

Eu só serei capaz de modificar a maldade do mundo quando souber que ela é uma maldade não importando quem a produz ou porque é produzida.

Há uma foto que mostra alguém que saltou, ou caiu, ou foi jogado, de uma das Torres Gêmeas para a morte. É uma foto tranquila, bonita, em linhas retas, e exatamente por isso é uma imagem horrível e exasperante de um mundo tortuoso. A irmã de uma das pessoas que pode estar representada na foto manifestou suas dúvidas - sobre a identidade desta pessoa que se aproxima do solo a uma velocidade que aumenta na proporção da gravidade, e sobre o que nela se passou - e terminou seu depoimento dizendo: "E espero que, com essa foto, não tentemos descobrir quem é ele, mas sim quem somos nós.

Não quem são. Quem sou."
Denise Brito

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Apenas seja total

Disseram a Osho:

Amado Osho,
Eu percebi hoje de manhã, enquanto você falava que eu era um lutador (... mas eu não sei fazer nada além de lutar), que desafortunadamente eu sou um lutador orgulhoso - e o que é pior, que adoro lutar. Eu adoro erguer-me diante da tempestade mais forte e rir. É uma grande alegria. Eu não gosto de estender-me ao sol e fundir-me. E, contudo, por trás da minha mente, o meu coração anseia profundamente por isso (fundir-se). Ele anseia, mas nunca parece ter ao menos uma chance de luta. Como eu posso salvar o meu ser?
Não há nenhum problema nisso.

Se você sente que é um lutador, se você se diverte lutando, não apenas isso, se você sente-se orgulhoso de ser um lutador... - então relaxe. Lute totalmente! Então não lute contra a sua natureza lutadora. Esta será uma entrega para você.

É perfeitamente belo erguer-se diante da mais forte tempestade e rir. Não se sinta culpado. Apenas tente compreender uma coisa: quando eu digo "entrega", eu não quero dizer que você deva mudar algo. Eu simplesmente quero dizer que, seja o que for que você seja, apenas permita-o em sua totalidade.

Seja um lutador com todo o seu ser e, nessa totalidade, você descobrirá a fusão do coração. Essa será a recompensa por você ser total. Você não tem de fazer algo pela recompensa - ela vem por si própria. Apenas seja total em qualquer coisa que você sinta que ama, da qual você se sinta orgulhoso - simplesmente seja total naquilo. Não crie uma divisão. Não fique mais ou menos; não seja parcial.

Se você for total, um dia - erguendo-se contra a mais forte tempestade, rindo - você subitamente sentirá o seu coração fundindo-se no sol. Isso virá a você como uma recompensa.

O homem cria problemas sem necessidade. Eu quero que vocês compreendam que não há nenhum problema na vida, exceto aqueles que vocês criam. Tente ver: o que quer que lhe pareça bom é bom. Então siga o caminho todo. Mesmo que o mundo todo seja contra aquilo, não importa. E se você foi total e inteiro, será decidido pela recompensa.

Se você começar a sentir em um certo ponto uma súbita fusão, então você saberá que não se enganou, que foi sincero, verdadeiro - que agora é realmente o ponto onde você pode ficar orgulhoso.

Osho, em "Além da Psicologia - Discursos no Uruguai"
Imagem por numerized studio

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A escolha é sua: com problemas ou sem problemas?

Você tem um problema. Quer dizer, você tem vários, muitos problemas. São problemas sérios. Para cada um deles você tem uma estória, com incríveis narrativas que reportam ao trauma do último relacionamento, à infância, à vida passada… As estórias se agrupam para ser sua “história de vida”. Você é isso!

Há aqui dois aspectos importantes para meditação e por isso o artigo desta semana é um pouco longo. Vem comigo!
Um dos aspectos é a criação de estórias (interferência da mente); o segundo, sua identificação com as estórias criadas.
Sri Bhagavan sugere que observemos com claridade este ponto: o FATO e as HISTÓRIAS que contamos em torno dos fatos.

Você pode ficar com o fato, apenas com o fato, sem criar uma estória sobre ele? Medite. Experiemente por 7 dias com total atenção e você terá percepções fortemente libertadoras. É a prática que sugiro para esta semana.

As estórias que contamos em torno dos fatos obviamente criam novelas, conflitos, dramas, sofrimento. Medite como sugere Bhagavan. Veja por você mesmo.

Por sua vez, Osho (cujo trabalho orienta-se por uma dinâmica entre terapia e meditação e em cuja comunidade neo-sannyas sempre se reuniram meditadores e a nata da “nova terapia”) falou certa vez sobre a não existência de nossos problemas.

Veja o que Osho nos conta, numa das falas da série “The Tantra Experience”:
A abordagem do Ocidente é pensar sobre o problema, encontrar as causas do problema, ir à história do problema… descondicionar a mente, ou recondicionar a mente, recondicionar o corpo, tirar todas as impressões que foram deixadas no cérebro… A psicoanálise vai à memória… vai à  infância, a seu passado, move-se para trás… Talvez 50 anos… 50 anos de história! E isso não ajuda muito, poque são milhões de problemas… Se você começar a dissolver os problemas da vida você precisará de mihões de vidas. Isso é absurdo!"

A mesma abordagem psicanalítica existe com relação ao corpo: Rolfing, bioenergética e outros métodos tentam eliminar as impressões no corpo, na musculatura. Da mesma maneira, você tem que ir á história do corpo… Uma coisa é idêntica em ambas as abordagens: o problema vem do passado, então de alguma forma deve ser encontrado no passado.

O Oriente tem um olhar totalmente diferente. Primeiro, dirá que nenhum problema é sério. No momento em que você diz que nenhum problema é sério, o problema está cerca de 99% morto. Toda sua visão muda.  A segunda coisa é que o Oriente diz que o problema existe porque você está identificado com ele. Não tem nada a ver com o passado, nada a ver com a história. Você está identificado com ele, esta é a realidade. E esta é a chave para solucionar os problemas…

Se você for a um místico do Oriente ele dirá: ´Você pensa que você  é a raiva, você se sente identificado com a raiva. Da próxima vez que a raiva surgir, seja apenas um observador, seja apenas uma testemunha. Não se identifique com a raiva, não diga ‘Eu sou raiva’. Apenas veja acontecendo como se fosse numa tela de tevê. Olhe para você como se estivesse olhando para outra pessoa.

Você é pura consciência… A coisa toda está em como não se identificar com o problema.  Uma vez você tenha aprendido…não haverá mais tantos problemas, porque a chave, a mesma chave abrirá todos os cadeados… Eles (os problemas) existem. Mas eles existem no corpo e no cérebro; eles não existem na sua Consciência, porque a Consciência não pode ser condicionada. A Consciência permanence livre. Liberdade é sua mais intrínseca qualidade, liberdade é sua natureza…

Toda a metodologia oriental se reume a uma palavra: TESTEMUNHA.
Toda a metodologia ocidental pode ser reduzida a uma única coisa: ANÁLISE.

Analisando você dá voltas e voltas.
Testemunhando, você sai do círculo… A circunferência é o ciclone. Você tem que encontrar o centro do ciclone. E isso acontece através do testemunhar. Testemunhar não vai mudar seu condicionamento. Não vai mudar sua musculatura. Mas testemunhar lhe dará a experiência  de que você está além da musculatura, de todo condicionamento…

É assim que um Buda funciona. Você usa a memória. Buda também usa a memória, mas ele não está identificado com ela. Ele usa a memória como um mecanismo…

Os problemas estarão lá, em suas impressões no corpo e no cérebro, mas como uma semente: existem potencialmente. Se você estiver se sentindo só e quiser um problema, você pode ter. .. Eles permanecerão disponíveis, mas não é necessário tê-los… Será sua escolha.”

Até a próxima semana.
Namaste!
Publicado originalmente em:
http://bemzen.uol.com.br/blog/2011/09/15/a-escolha-e-sua-com-problemas-ou-sem-problemas/

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O Corpo de Dor

O corpo de dor é uma forma de energia semiautónoma que vive dentro da maior parte dos seres humanos, uma entidade constituída por emoções. O corpo de dor tem a sua própria inteligência primitiva, como um animal matreiro, e a sua inteligência está sobretudo direcionada  para a sobrevivência. Como todas as formas de vida, necessita periodicamente de se alimentar - de consumir nova energia - e o alimento de que ele necessita para se reabastecer consiste numa energia compatível com a sua própria energia, isto é, uma energia que vibra numa freqüência semelhante. Qualquer experiência emocionalmente dolorosa pode ser utilizada como alimento pelo corpo de dor. por isso, o corpo de dor cresce, alimentando-se de pensamentos negativos, assim como dos dramas que se prendem com os relacionamentos. O corpo de dor consiste numa dependência da infelicidade.

Pode ser um choque aperceber-se pela primeira vez de que existe algo dentro de si que procura periodicamente a negatividade emocional, que busca a infelicidade. É preciso termos mais consciência para reconhecermos  em nós mesmos do que nos outros. Assim que a infelicidade nos domina, nós não queremos que ela acabe, como também queremos que os outros se sintam tão infelizes como nós, para nos alimentarmos das suas reações emocionais negativas.


Na maior parte das pessoas, o corpo de dor pode encontrar-se num estado latente ou ativo. Quando está latente, é fácil esquecermo-nos de que carregamos dentro de nós uma pesada nuvem escura ou um vulcão adormecido, dependendo do campo energético do nosso corpo de dor específico. O tempo durante o qual permanece latente varia de pessoa para pessoa: o mais comum é durar apenas algumas semanas, mas pode ser apenas alguns dias ou até vários meses. Em alguns casos raros, o corpo de dor pode permanecer num estado de hibernação durante anos até ser desencadeado por algum acontecimento.


(...) Se vivermos sozinhos ou estivermos a maior parte do tempo sozinhos, o corpo de dor alimenta-se dos nossos pensamentos. De repente, os nossos pensamentos tornam-se profundamente negativos. É provável que não tenhamos consciência de que, mesmo antes de se verificar o afluxo de pensamentos negativos, existe uma onda de emoção que invade a nossa mente - na forma de um humor sombrio e pesado, de ansiedade ou de uma ira inflamada. Todos os pensamentos são energia e o corpo de dor alimenta-se da energia dos nossos pensamentos. Mas não de quaisquer pensamentos. Não é necessário termos uma sensibilidade particularmente apurada para percebermos que um pensamento positivo apresenta uma vibração totalmente diferente da vibração de um pensamento negativo. É a mesma energia mas vibra numa freqüência diferente. Um pensamento positivo e feliz não é digerível pelo corpo de dor. Ele só se pode alimentar de pensamentos negativos, pois só estes são compatíveis com o seu próprio campo energético.


(...) A emoção do corpo de dor assume rapidamente o controle do nosso pensamento, e assim que a nossa mente é dominada pelo corpo de dor, os nossos pensamentos tornam-se negativos. A voz que existe dentro da nossa cabeça começa a contar histórias de tristeza, ansiedade ou ira sobre nós e sobre a nossa vida, sobre as outras pessoas, sobre o passado, o futuro ou acontecimentos imaginários. A voz tem um tom acusador, de censura, lamento e fantasia. E nós identificamo-nos completamente com tudo o que a voz diz, acreditamos em todos os seus pensamentos distorcidos. Nesta fase, a dependência da infelicidade, já se instalou.

(...) Chega a uma altura que, após algumas horas ou até alguns dias, em que o corpo de dor está totalmente reabastecido e regressa ao seu estado latente, deixando atrás de si um organismo esgotado e um corpo muito mais susceptível à doença.

Como te libertas do corpo de dor?


O inicio da libertação do corpo de dor começa em primeiro lugar, por nos apercebermos que temos um corpo de dor. Depois, e igualmente de suma importância, surge a nossa capacidade de permanecermos suficientemente presentes e alerta para nos darmos conta do corpo de dor existente em nós mesmos, que assume um pesado fluxo de emoções negativas quando está activo. Ao ser reconhecido, o corpo de dor já não pode fazer-se passar por nós, nem pode permanecer vivo e continuar a fortalecer-se através de nós.

É a nossa Presença consciente que quebra a nossa identificação com o corpo de dor. Quando não nos identificamos com o nosso corpo de dor, este deixa de conseguir controlar o pensamento e por isso, não se consegue fortalecer alimentando-se dos nossos pensamentos. (...) O nosso pensamento deixa de ser ensombrado pelas emoções; as nossas percepções do presente deixam de ser distorcidas pelo passado. A energia que estava presa ao corpo muda então a sua freqüência vibratória e é transmutada em Presença. Desta forma, o corpo de dor transforma-se em alimento para a consciência.
Ekhar Tolle
Um Novo Mundo

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Seu café está esfriando

Outra história:

Estudante Zen: "Então, Mestre, a alma é ou não imortal? Sobrevivemos à morte de nosso corpo ou nos aniquilamos? Nós realmente reencarnamos? Nossa alma se divide em partes componentes que se reciclam, ou entramos no corpo de um organismo biológico como uma única unidade? E retemos ou não nossa memória? Ou a doutrina da reencarnação é falsa? Talvez a noção da sobrevivência cristã seja mais correta? Se for assim, temos ressurreição do corpo ou nossa alma entra num reino puramente platônico e espiritual?"
Mestre: "Seu café da manhã está esfriando".

Esta é a maneira do Zen: trazê-lo para o aqui e agora. O café da manhã é muito mais importante do que qualquer paraíso, do que qualquer conceito de Deus, do que qualquer teoria da reencarnação, da alma, do renascimento e de toda essa tolice. Porque o café da manhã está aqui e agora.

Para o Zen, o imediato é o final, e o iminente é o transcendental. Este momento é a eternidade... você precisa estar desperto para este momento.

Assim, o Zen não é um ensinamento, mas uma estratégia para perturbar sua mente sonhadora e de alguma forma criar um tal estado que você fique alarmado, que você tenha que se levantar e ver, uma estratégia para criar tal tensão à sua volta a ponto de você não poder permanecer dormindo confortavelmente.

E esta é a beleza do Zen e a revolução que ele traz ao mundo. Todas as outras religiões são consolos; elas o ajudam a dormir melhor. O Zen tenta acordá-lo; ele de modo nenhum tem consolos. E ele não fala sobre grandes coisas. Não que estas grandes coisas não existam, mas falar delas não vai ajudar.

Osho, em "Vá Com Calma - Discursos Sobre o Zen-Budismo"
Imagem por Andrewthecook