terça-feira, 23 de outubro de 2007

Considerações (3)

Essa questão dos preços, das idéias e da comparação do período industrial com o pós industrial ou Era da Informação (leia a parte 1 antes de se aventurar nessa aqui), foi fruto de uma conversa em uma as listas que participo.
Eu sou categórico ao afirmar que o futuro já está aqui. Não estou usando roupa justa de malha nem as portas da minha casa se abrem como em Jornada Nas Estrelas, mas o meu celular tem quase tantas funçoões quanto o intercomunicador do Sr.Spock.
Na minha bancada, bem aqui na minha frente eu tenho: um rádio de pilha, um gravador digital, um cachimbo, telefones sem fio, celulares, um relógio de pilha, um copo com canetas, monitores de LCD... igual você. Garanto que na sua frente, convivem facilmente o passado e o presente. O futuro está vindo a cada instante, tão devagar que não nos damos conta e tão rápido para que só percebamos ao acordar.
O mundo não está tão diferente quanto eu imaginei que estaria quando saí do cinema com meu avô depois de assistir "2001 Uma Odisséia no Espaço". Tudo bem que a empresa aérea do filme faliu, mas nada, absolutamente nada do que está ali aconteceu.
Por outro lado, muita coisa mudou. Podemos ter acesso a informações de uma maneira mais rápida do que nunca, apesar de que a nova geração não se importa muito em guardar as informações que são geradas agora.
Com certeza existem muitas facilidades. Coisas que eu odiava, como fila de banco, hoje são literalmente coisa do passado. Mesmo assim, o caixa que está sentado atrás do banco que eu não vou, apesar do computador na frente dele, se sente igualzinho ao cara que atendia meu avô no banco 30 anos atrás.
Fica difícil criarmos um paralelo. Podemos ver que certas facilidades melhoraram a vida das pessoas e trouxeram maior agilidade para pesquisas importantes na área da saúde, mas com isso tudo ainda é difícil prender um político corrupto, um empresário sonegador de impostos ou um batedor de carteira. Tudo como há 40 anos atrás. Só o que posso dizer é que o batedor de carteira perdeu seu charme. Se antes ele era um cara ousado, ágil e até possuidor de uma certa ética, tornou-se com o passar dos anos em um esfomeado e drogado que precisa fazer o que faz pra pagar o vício.
Me lembro de um velho amigo comentando comigo que anos atrás havia a figura do "vagabundo", aquele que não trabalhava porque era preguiçoso, porque era "da malandragem", ficava nas ruas para os pequenos golpes. Hoje está tudo igual, só mudou como o chamamos. Ele agora é "desempregado" e se alguém arrumar um emprego pra ele devem aparecer duas dúzias de ONGs pra defender o direito dele de ficar "desempregado".
Diante dessas loucuras, a Casas Bahia, o Ponto Frio, o Magazine Luiza, as Lojas Americanas e tantas outras, vendem computadores. Ooops, esqueci que os supermercados também estão vendendo eles. Bem, cá estamos naquele imenso supermercado, com um vendedor que sabe tudo sobre radinho de pilha, que não pode pagar pelo que está vendendo e que não tem a menor idéia sobre o que seja "otimização de recursos". Esse cara vai vender aquilo que o gerente dele mandou. Ele não é louco de discutir. Assim que alguém se aproxima do notebook lindamente exposto longe da seção de carnes, pra que o cliente se sinta privilegiado de estar ali, quando muitos se sentem bem exatamente por poderem estar na fila da carne, mas isso é outra história. O cara vê o notebook e recebe as informações que estão escritas na etiqueta, mas que o vendedor já decorou, o que faz parecer que há um especialista atendendo-o. O consumidor escolhe o computador como escolhe o carro. Tem que ser o mais novo, o com mais poder, com mais memória, mais cores, a maior tela e o preço que ele possa pagar. Não importa se ele vai usar todo esse poder de fogo ou não. Pra ele interessa que vai dizer pros amigos que tem o mais moderno. Fantástico. Bom pra ele que precisa medir o tamanho do pau pra se sentir melhor.
Esse mesmo vendedor poderá estar na semana seguinte, vendendo máquina de lavar se a oferta da outra loja for melhor. Usará sua mesma tática com as donas de casa. Coitadas...
Mas o cara tá lá com seu notebook... tá lá com seu notebook... e não pode fazer nada, porque ele precisa de programas. No dia seguinte no escritório ele pega o disco original do pacote de aplicativos que usam por lá e instala no seu note. Quando ele desce pra almoçar, um cara na rua oferece um CD com o último jogo e na esquina seguinte outro cara oferece a versão mais recente dos aplicativos que ele acabou de pegar no escritório. "Uau! - ele pensa - terei uma ótima noite!"
Claro, vai poder se divertir enchendo o note de bagulhos desncessários, mas mais importante: ilegais.
Porque será que ele não comprou o pacote de aplicativos e o jogo? Porque é caro? Com certeza. Se você comparar o preço do hardware com o preço do programa, vai ver discrepâncias enormes. Um programa de arquitetura pode custar US$2000 e um pacote de aplicativos uns US$250. Só aí já chegou no preço do note. Acrescente R$450 do preço do Sistema Operacional (dificilmente conseguem vender o alegre pinguim em um supermercado) e temos outro notebook. Precisa ser assim?
Gostemos ou não, a Microsoft praticamente detém o monopólio dos SO. Pra onde nos viramos está o tal Windows e não temos alternativas. Se todos precisam usa-lo, porque ele custa esse preço? Não estamos em um mundo globalizado? Ela não vai vender esse mesmo produto, com pequenas adaptações, no mundo todo? Ela cobra esse preço porque ela não sabe quanto vale o Windows.
Reparou a frase? "Quanto vale"? É como avaliar o teto da Capela Sistina (não que eu esteja comparando Michelangelo e Bill Gates) mas é algo cujo preço está além das tintas, perdão dos bytes e das pesquisas.
Não se paga um valor justo por nenhum software. O Windows eatá aí há muitos e muitos anos e o que foi gasto nas pesquisas, como defendido por alguns, já foi pago. Hoje, a Microsoft precisa pesquisar e desenvolver como meio de vida. Não se trata de "busca por conhecimento" mas a busca da sobrevivencia. Se não fizer isso morre.
Ao contrário de um automóvel, um software não precisa fazer alterações cosméticas de ano pra ano. Se apenas corrigir os erros (bugs) já está muito bom. Mas claro, há a concorrência e ela faz coisas que esse aqui não faz e porque não acrescentar isso em uma revisão? Claro, será ótimo. Enfrentar a concorrência requer uma boa visão do mercado, mas não me parece que o Linux já seja um concorrente ameaçando a hegêmonia do Windows.
Voltamos aqui novamente à composição dos preços.
Não quero entrar nas extensas e complicadas planilhas que poderiam ser feitas. Não quero entrar também na avaliação da marca. Quero apenas dizer o seguinte: é caro. Qualquer software vendido comercialmente por uma grande softhouse é caro.
Centenas de "softhomes" (softhouses domésticas geralmente de um homem só) fazem excelentes programas e os colocam no mercado por US$15,00. Um preço bem razoável e acessível. Alguns desses programas estão por aí há mais de 10 anos. Qual o truque?
Não há truque. Só não há um prédio cheio de gente, só não há empresários gananciosos que nem são do ramo.
Qualquer semelhança com a indústria fonográfica não é mera semelhança, é vergonha mesmo. (continua?)

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