Lá vou eu de novo...
Viemos de um período industrial, onde o que importava era fabricar, industrializar. Saíramos de um periodo agrícula, onde havia plantio e cultivo, safra e entre-safra. Naquele periodo industrial logo se pensou que não haveria entre-safra. Poderia se produzir sempre, ao contrário das cenouras (só pq lembrei do Pernalonga) que não crescem no inverno. Mas não era bem assim. Havia também a entre-safra dos insumos. Havia o problema da mão de obra. Resolveu-se parte de tudo isso com a globalização e os robôs.
Mas com a globalização veio a possiblidade de fabricar em outros lugares (leia-se Oriente) e pra lá foram. Não era mais importante o fabrico, era sim a idéia, o pensamento, a criação, a informação.
Adentramos pois a era da informação valorizando o pensamento em detrimento do fabrico, mas o que acontece com o pensamento?
Ele deve ser usado pra criar algo. Cria-se portanto um produto nos EUA que vai ser fabricado na China e vendido na Europa. Perfeito.
Globalização, avanço científico mas temos ainda resquícios do passado.
Notóriamente a China tem mão de obra barata e isso nos faz lembrar as fábricas inglesas de dois séculos atrás se valendo até do trabalho infantil. Tá, mas se o produto não precisar ser industrializado dessa forma? Se o produto for música? Eu crio, gravo (seja lá como for) e coloco na internet onde é baixado e pago pelos downloads. A música passa a ser paga diretamente ao artista, ou pelo menos de uma forma muito semelhante ao que acontecia com os compositores e músicos das cortes. Tá, isso é só uma constatação.
Já que estamos na era da informação, vamos nos aprofundar mais um pouco e agora me importa como foi que eu gravei aquela música, só que eu vou mudar de exemplo propositadamente e falar dos escritores.
O cara tem uma idéia e constatou que se for escrever à lápis vai ser difícil mandar pra revisão, se for usar uma máquina de escrever fica legível mas ele mesmo não pode alterar do jeito que gostaria. Como último recurso ele se vê fadado a usar um computador. Ele vai em uma loja de eletrodomésticos e compra um que lhe atende ou que o vendedor precisava vender. Feito isso ele chega em casa e descobre que precisa de algo melhor pra escrever do que o processador de texto que veio com o sistema operacional. O que ele faz? Ele usa a internet pra procurar um programa. Descobre um do seu agrado e compra. Paga com seu cartão de crédito direto no próprio site do fabricante e baixa o programa para seu disco rígido, instalando-o.
Como vcs podem ver, foi tudo muito interessante e feito de uma forma muito moderna. Onde está o arcaico? A composição do preço do programa. Se alguém aqui já trabalhou com isso, sabe como são calculados os custos, como são estimadas as vendas e os lucros desejados. Quando você lê sobre quantos anos foram gastos na pesquisa de um determinado produto, existe uma fórmula estranha aplicada, porque a pesquisa poderia ter dado em nada, como também ter vários produtos derivados da mesma pesquisa.
Primeira conclusão: os preços hoje ainda são calculados da mesma forma, com as mesmas fórmulas usadas nos produtos da era industrial. Isso vale pra tudo.
Precisamos agora de um outro exemplo, ou de uma particularização quanto a um tipo de produto. Não, não vou usar softwares, mas sim remédios. É sabido e notório que a indústria farmacêutica gasta milhões com pesquisa e é amplamente recompensada, sendo uma das indústrias mais lucrativas. Pois bem: qual o preço de um remédio? Não é um bem, é algo que se usa quando necessário e que depois de um certo tempo pode ser ultrapassado ou substituído por algo melhor.
Essa descrição vale para um software? Sim.
Os custos em pesquisa são iguais para as duas indústrias? Não.
Aonde eu quero chegar com isso? Não é a pesquisa que torna um produto, como um software, caro, mas sim a forma retrógrada de como os custos são calculados.
Alguém falou que a Microsoft suplantou a IBM em tamanho. Será mesmo? A IBM tem em seus laboratórios (pelo menos) 5 ganhadores de prêmios Nobel. A Microsoft nem chega a ter laboratórios do mesmo nível, de pesquisa pura. A IBM mudou o foco do seu negócio para o B do seu nome. Com isso ela passou a atuar muito mais no campo das idéias, da organização e da venda de serviços, do que na de máquinas, como era nos anos 80. Parece-me uma empresa muito mais antenada com os dias de hoje do que a antiga parceira.
Pra fechar: a Apple, fabricante de hardware e software nos moldes antigos, tem como presidente um cara que não faz outra coisa a não ser fomentar novas idéias. Steve Jobs sabe que ao contrário dos anos 80, não pode ficar parado em um único produto em uma única idéia. São tantos produtos, tantas idéias, que em outros tempos correria o risco de ser chamada (a Apple) de uma empresa sem identidade. Mas hoje, mas do que nunca, a identidade é exatamente essa: idéias. Uma empresa que pretende surpreender pela quantidade de idéias que traz ao público. (Quanto será que Steve Jobs vai me pagar por esse artigo?)...(continua)
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