domingo, 13 de julho de 2008

Crise na música...

Caramba, só tenho falado sobre a crise na música. Mas que crise? Estava conversando com meu irmão outro dia e ele sabiamente - como sempre - me lembrou que eu não estou em crise. Muito pelo contrário, nesses últimos anos houve uma melhora incrível na demanda e estou produzindo mais do que nunca, ou melhor, nós no Aquilante estamos no auge das produções. Meu último CD saiu no mês passado, estou participando de uma incrível coletânea de música eletrônica chamada Childhood's End em homenagem ao Arthur C.Clarke e coordenada pelo excepcional Dale Kay, meu quarto CD está pronto e às vendas on-line nunca foram melhores. As trilhas para cinema estão de vento em popa, apesar de nenhum dos filmes aparecer no grande circuito (alguém já ouviu falar em "Cyric Encounters"?) e mais propostas estão chegando. Então aonde está a crise? Parece que a aquela indústria que cobra uma exorbitância por um CD de 30 anos atrás, que já se pagou inúmeras vezes, é que tem um problema. Eu não tenho. Rick Wakeman não tem. Keith Emerson não tem. Mike Oldfield não tem. Os executivos é que perderam seus passeios com prostitutas de luxo em jatinhos para as Bahamas. Perderam as regalias e os empregos. Claro que eles estão em crise.
Qual foi a estratégia que usaram quando lançaram o CD? Foi uma de longo prazo? Preocuparam-se com uma nova geração? Pensaram ao menos 15 anos à frente?
Nada disso. A estratégia deles foi pífia. Perceberam que todos compravam o que já tinham e procuravam por músicas antigas. Discos que já estavam pagos. Os lucros eram enormes, fenomenais. "Estratégia? Pra que isso? Vamos faturar!!" Deram com os burros nágua.
Não estavam preparados para o que veio a seguir.
A tecnologia os atropelou e a geração abandonada por eles buscou abrigo na internete e nos downloads, nas bandas independentes e pela primeira vez o público ouvia o que queria. Nem o fabuloso "jaba" adiantou, porque as rádios transformaram-se e música não dá mais dinheiro do jeito que dava antigamente.
Quanto um artista ganhava em cada disco? A Elis Regina teve coragem de dizer e quase apanhou (literalmente). Quanto ganha um artista hoje?
Está fácil gravar um disco e o mercado ampliou consideravelmente. Meus discos são ouvidos na Sibéria (pode acreditar) e na Nova Zelândia, lugares que eu adoraria visitar mas não estão nos meus planos. Alcanço pessoas que nunca podeiam me ouvir há 20 anos atrás, mas que hoje me escrevem, se interessam pelo próximo trabalho, elogiam e criticam, participando ativamente.
Quando imaginei gravar com Peter Gabriel? Quando pensei ter meus clips disponíveis para todo o mundo? Nem preciso dizer: nunca!
Mas isso é o que está acontecendo agora e só pra lembrar que o pseudo visionário Bill Gates, não levou em conta a internet, mas que ela é mais real e mais próxima do que meu avô imaginaria.
Estou escrevendo isso em um pequeno note sobre a mesa de um agradável barzinho em Paris e não só a cidade parece irreal. Poder escrever isso enquanto espero meu "loraine", com todo o conforto e como se estivesse em casa é o máximo.
Crise? Só há crise para os que não sonham. Sonhar é o que há de melhor. Sonhe muito. Pense grande. Planeje sua vida para os próximos 20 anos e você estará muito melhor daqui há 30.
Pensei em planejar quando tinha 16. Sonhei e desejei uma vida que parecia que não ia acontecer, mas aos poucos, as coisas foram entrando nos eixos. Pude ajustar meu planejamento para os meus objetivos. Foco. Eu estava focado e cheguei. Cheguei? Nada disso. Meus ideais transmutaram-se. Meus desejos adaptaram-se. Tornei-me mais exigente e ao mesmo tempo mais sábio, pra perceber quando é hora de mudar. Agora mesmo preciso mudar. Minha esposa olha pra mim e pro garçon à nossa frente com meu loraine. A taça de vinho está vazia e isso requer planejamento. Mais uma taça e o fim desse texto pra apreciar a vida.
Você que está lendo isso agoa pare. Levante, dê uma volta e pense na sua vida. Não posso deixar esse delicioso petisco esfriar.
T+

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