Fernando Pessoa é um daqueles que são muito citados e pouco lidos. No meio do século passado, entre um grupo de amigos meus, era comum falarem sobre a poesia dele e de como era bela sem ser piegas, de como ele era amargo e profundo. Falavam muito e conheciam pouco.
Esse fenômeno alastrou-se neste século com citações atribuídas a vários autores, de Jabour a Veríssimo, de Pablo Neruda a Dalai Lama apenas se obter alguma atenção. Mas este fenômeno não é fruto da tecnologia como muitos imaginam. Muitos séculos atrás, a prática de atribuir a autoria a uma pessoa importante, visava dar credibilidade a textos escritos pelos discípulos de um ou outro mestre. Hoje em dia eu não entendo. Alguns textos que recebo são ótimos, mas ao assinar como alguém famoso, destrói a verdade contida nele com a falsa assinatura. Pena que quem pensa não queira assumir seus pensamentos.
Aqui assumo. Os textos na marca (ou tag) Meu Pensar são exatamente isso, enquanto Outros é o que aparenta: o pensar de outros. Essa introdução me ocorreu quando lembrei da ainda menos lida prosa de Fernando Pessoa. Quando acompanhei parte de uma turnê de Egberto Gismonti aqui no Brasil, ao apresentar a música Fado, ele citava parte do seguinte texto extraído de uma crítica teatral de Pessoa à peça Orpheu:
"O sentimento abre as portas da prisão com que o pensamento fecha a alma. A lucidez só deve chegar ao limiar da alma. nas próprias antecâmaras é proibido ser explícito.
Sentir é compreender. Pensar é errar.
Compreender o que outra pessoa pensa é discordar dela. Compreender o que outra pessoa sente é ser ela. Ser outra pessoa é de grande utilidade metafísica. Deus é toda gente.
Ver, ouvir, cheirar, gostar, palpar são os únicos mandamentos da lei de Deus. Os sentidos são divinos porque são nossa relação com o Universo, e a nossa relação com o Universo Deus."
Volte e leia novamente o texto. Há tanta verdade nessas palavras que apenas uma leitura não é suficiente para o absorvermos. Pensando bem, não leia com os olhos. Leia com o coração. Sinta o texto.
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