segunda-feira, 9 de março de 2009

Resposta à carta do Luciano Pires

Para ler a carta, você pode ir ao site dele aqui ou na postagem anterior a esta. Se já fez isso, pronto ou não aqui vou eu!

Falou "arquiteto" (com ou sem aspas)... me chamou. :-)

Faz muito tempo que esse país matou os "arquitetos". Alguns anos atrás, comentei sobre o texto de um amigo "Morte aos Arquitetos", que eles precisavam descer dos seus pedestais e parar de tentar valorizar a profissão, porque havia apenas uma valorização do próprio ego. Tratávamos ali de arquitetos (sem aspas). Aqui no teu texto, a constatação de que há muitos anos eles (com aspas) já foram mortos.Há quantos anos atrás o BNH acabou? (novembro de 1986 pra quem não foi dessa época)

O que o governo Lula está propondo agora? (criar novamente o BNH).
"Porque acabou" já não cabe mais em discussão, mas o que aconteceu com o fim dele está claro. A população cresceu e as cidades incharam, sem política alguma de criar residências para os que necessitam. Residências implicam em saneamento básico, algo inexistente em muitas comunidades, como gostam de chamar as favelas.

No meio do esgoto e sem saúde, a população que só faz crescer, sequer é inserida no mercado de trabalho, ficando à margem e como tal, marginais, capazes de atos obtusos.

Pior do que uma manada, são várias delas e, uma dentro da outra. A manada X contra a manda Y. A manada externa contra a manada interna. Aonde iremos chegar é conversa pra antropologistas.

Mas será que as manadas tem líders? Se a manada está subdividida, posso crer que alguns dos pequenos grupos tenham líderes, mas quanto maior ele se torna, mais distante fica do líder original e este mais distante do todo e por mais que se auto-intitule como líder, sua liderança não só é contestada, mas realmente ignorada, no melhor sentido da palavra, aquele que subtrai o conhecimento.

O que é uma manda sem líder (se é que existe tal coisa no reino animal)?
Retornamos ao exemplo do Luciano: "raciocinar mal com dados falsos".
Nossa capacidade de raciocínio está cada vez mais prejudicada. E um exemplo são as Wiki. Eu conheço o Luciano Pires há algum tempo e de certa forma sei o que esperar dele, incluindo aí o inesperado, mas não conheço o John Doe. Devo acreditar em uma informação que ele forneça? Devo acreditar que ele é capaz de discernir sobre alguma coisa que eu mesmo não conheça? Enfim, posso confiar em John Doe?

Cada vez mais querem nos fazer crer que estar "publicado" na internet já é suficiente para que seja verdade.
Cada vez mais, alguns animais da nossa manada nos querem fazer crer que aquilo é inteligência.
Cada vez mais nos querem fazer crer que eles são mais inteligentes do que nós.

Mas como eles querem fazer isso se simplesmente não nos conhecem?
Porque assim é na manada. Olhar em volta e não se identificar com o que vê, reforça o sentimento de não sermos tão burros quanto a soma de todos nós.

Certa vez fui apresentado a um novo chefe. Depois do discurso habitual, permitiram que fizéssemos perguntas. Levantei meu braço e perguntei: "Quem é você para ser nosso chefe?" Tentei fazer com que a pergunta soasse o menos agressiva possível, mas jamais imaginaria que não fosse respondida. Ele não sabia responder. Porque a inversão da pergunta: "Porque devo contratar você?" soa tão agressiva? Os líderes não estão acostumados a serem questionados. Eles são alçados ao poder, perdão, alçados ao cargo para executar uma estratégia sem objetivos, como se houvesse um poder divino a guiar o líder máximo. E chegamos ao final da estrada de tijolos dourados e ao próprio Mágico de Oz. Não há líder divino e o superior responde ao superior que responde (muitas vezes) a um anão da câmara, a alguém do chamado baixo clero, a um corrupto, a um ladrão... esses são nossos líderes?

sexta-feira, 6 de março de 2009

A Carta do Luciano Pires (1)

Esse foi o conteúdo do que ele me enviou em 06/março. Você pode encontar a versão original no site dele: http://www.lucianopires.com.br/idealbb/view.asp?topicID=10515&pageNo=1&num=

[abre aspas]
"Othon Moacyr Garcia foi um filólogo, lingüista, ensaísta e crítico literário brasileiro. Em um de seus trabalhos escreveu que "ainda que cometamos um número infinito de erros, só há, na verdade, do ponto de vista lógico duas maneiras de errar: erramos raciocinando mal com dados corretos ou raciocinando bem com dados falsos.”Vivemos numa sociedade em que a maior fonte de informação é a mídia que apresenta os dados superficialmente, conforme seus interesses. Fiar-se numa fonte assim é um risco.

Por outro lado a capacidade intelectual da sociedade tem sido reduzida num processo de emburrecimento infinito. Vivemos cada vez mais numa manada, copiando as decisões que o bovino ao lado tomou.

Surge então uma terceira maneira na equação de Othon Garcia: raciocinar mal com dados falsos...

Dentro da manada fazemos perguntas erradas, recebemos respostas erradas, realizamos diagnósticos errados e tomamos as ações erradas. Some-se a isso um altíssimo grau de cagaço e pronto! Olhe em volta!Um amigo foi comprar um automóvel. Um Ford KA. Na concessionária, a informação: 45 dias para entrega. Não tem carro em estoque...

A Volkswagen, que no fim de 2008 cancelou o pagamento de horas-extras e concedeu férias coletivas escalonadas para seus 22 mil empregados, vai convocar sete mil funcionários para turno extra de trabalho no final de semana. Ela precisa adequar o volume de produção à demanda, que cresceu rapidamente. A situação nas demais montadoras não é diferente: ou você se adapta ao que tem na concessionária ou espera até sessenta dias.

Enquanto isso o segmento de carros importados ri à toa: saltou de 13,2% de participação de mercado em novembro para quase 20% em janeiro.

Se tudo andar mal com a indústria automotiva brasileira, voltaremos em 2009 aos patamares de 2007... Que foi simplesmente o segundo melhor ano da história dessa indústria no Brasil.

Que raio de crise é essa?
É a crise do pensamento estratégico, que morreu. Só restou o tático. Típico de manadas.

Deixe-me esclarecer com um exemplo simples: um arquiteto desenha um prédio maluco. É preciso que um engenheiro faça os cálculos estruturais para o prédio ficar em pé. E então os pedreiros erguem o edifício conforme os planos.

A visão (objetivo) do arquiteto é sustentada pela técnica (estratégia) do engenheiro que é tornada realidade pela execução (tática) dos pedreiros. Estratégia sem objetivo é desperdício. Execução sem estratégia é um desastre. O muro ficará torto e o prédio vai cair. E, se não cair, provavelmente terá custado infinitamente mais do que se seguisse uma estratégia.

A miséria intelectual, a asinidade estratégica e a vida em manada acabaram com os “arquitetos” na virada do milênio. E agora o cenário de crise está acabando com os “engenheiros”. Só restam “mestres de obra” e “pedreiros”. Atenção para as aspas, por favor.

Decisões? Só para curto prazo, para coisas que podem ser medidas e vistas. E dá-lhe simplismo. Tem que reduzir custo? Mande o povo embora. Corte os investimentos em comunicação. Transfira o poder para o departamento de compras, que vai escolher o mais baratinho. Deixe o dinheiro no banco que é mais seguro...Infelizmente ninguém jamais medirá o custo dessas decisões. Eles não cabem numa planilha. E se coubessem a manada não entenderia.

Pois alguém já disse que “nenhum de nós é tão burro quanto a soma de todos nós.”

Nunca na história deste país vi uma verdade mais absoluta.
Luciano Pires "
[fecha aspas]

Aguardem a "resposta".