O grande problema da premonição é que Hollywood se meteu no meio. Quando se tem um sentimento estranho, quando se tem uma noção ampla do universo, alguém lembra de um filme. Os filmes são ótimos, mas existem para o entretenimento e não para instruir. Isso foi há muito tempo atrás. Instrução. Acreditava-se poder adquiri-la nos filmes. Quem dera. Os filmes existem para os incrédulos, porque os crédulos sabem que nada é como nos filmes. Se o amor - teóricamente um sentimento conhecido - não acontece como nos filmes, o que dizer das coisas que estão realmente além da nossa compreensão?
Ter o dom da premonição (acho que isso é título de filme) é mais do que uma dádiva divina. É preciso saber o que fazer com isso. E acredite, não é nem um pouco fácil. Aproxima-se da loucura. A sociedade moderna acredita ter identificado a loucura. Mas se ela mesma é tida como louca, apenas segrega aqueles que não sofrem do mesmo mal que ela. Parece confuso? Com certeza. Alguém que já teve catapora, pode achar que uma alergia seja um "princípio" da mesma. É o mesmo. Estamos sempre correndo e quando vemos alguém parado, ou pior, parando, acabamos dizendo que ele está enlouquecendo, porque não está indo no mesmo ritmo que "a vida".
Me lembro de duas coisas. A primeira é a cena do filme Expresso da Meia Noite, quando o protagonista começa a caminhar na direção contrário a de todos os outros "internos", que caminham resignadamente ao redor de alguma coisa que não recordo. Este momento é o início da reação dele à sociedade que o cerca naquele momento. A outra coisa é uma frase que diz que "a barra da vida é que ela não tem meio termo".
Assim como aquele protagonista, acabamos engolidos pela realidade do que nos cerca, como se aquilo fosse o inevitável, o que estava escrito, o maktub dos meus ancestrais. Como não há meio termo, ou aceitamos essa (muitas vezes) pretensa realidade, ou caminhamos na direção contrária. Exatamente nesse momento, nos chamam de loucos e descobrimos que temos que sê-lo, exatamente para não enlouquecer.
Em um almoço de final de semana qualquer, meu pai virou pra mim e disse que eu estava com um ritmo de vida muito "louco". Eu nem pensei duas vezes antes de dizer que "a minha sanidade residia na minha loucura". Foi exatamente quando abandonei essa locura é que me aproximei da insanidade. Sinistro, não? Confuso? Nem um pouco. Releia e entenderá.
Quem venceu nessa vida, foram os que enlouqueceram. Quem vence é quem acredita que não está louco, quando todos dizem o contrário. Ne vou citar nomes, porque todos nós conhecemos várias histórias assim, mas por favor, nada de citar filmes.
Mas vencer na vida é fácil. Cada um é um vitorioso. Difícil é lidar com o sobrenatural em uma sociedade tão pretensamente lógica, tão envolvida pela "ciência da computação" como a nossa. Pensamos em computadores e desprezamos as informações que eles guardam e geram. Eu mesmo estou escrevndo isso na mesa do Deux Maggots diretamente neste blog sem ter escrito previamente (como costumo fazer) e portanto sem backup (algo que espero fazer quando chegar em casa) mas a conversa com minha esposa e o bordeaux deram a idéia pra escrever (e só faço aproveitando que ela está conversando com uma amiga), portanto me arrisco um pouco (o que não faz mal nenhum). Vejo gente mais nova nem um pouco preocupada com informação, história, até mesmo conhecimento, cultura. Sobrenatural? Nem pensar. É loucura.
Os atuais "evangélicos" fazem tudo parecer pior. É tudo preto e branco. Está-se com eles ou contra eles. Não há espaço para premonições. Talvez até não haja espaço para sentimentos, emoções. Espero estar enganado. Espero não estar "percebendo" coisas demais.
Oops, chegou meu quichê.